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Vitória [Crítica]

Filme brasileiro estrelando a veterana Fernanda Montenegro, “Vitória” traz uma trama baseada numa história real que tem muito potencial para retratar uma triste realidade brasileira de forma tocante, mas acaba tendo um desenvolvimento mais contido e, digamos, minimalista. Tentarei evidenciar isso que ressaltei, mas adianto que, de qualquer forma, esse não deixa de ser um filme nacional interessante a ser visto.

Na trama, conhecemos a inquieta Dona Nina, moradora de um prédio nos arredores de um morro da periferia do Rio de Janeiro. Indignada pela criminalidade, os constantes tiroteios no local e com a conivência/falta de atuação da polícia na região, Dona Nina procura o batalhão de polícia para exigir que algo seja feito. Como lhe são exigidas provas das suas alegações, a senhora tem a ideia de comprar uma câmera e registrar a partir de sua janela as movimentações criminosas do tráfico que ocorre numa pracinha bem em frente. Na posse das fitas, ela tem a esperança de que algo finalmente possa ser feito para sanar a situação, porém a polícia parece não ter nenhuma pressa em resolver o problema.

A história real por trás desse filme abre grandes possibilidades a serem exploradas para uma adaptação cinematográfica. A iminência, a tensão, a sutileza nas ações da protagonista. Tudo isso poderia ser explorado para a obtenção de uma narrativa engajante, envolvente e ainda inquietante, contribuindo para a indignação do espectador e a transmissão de uma mensagem potente acerca do problema social envolvido. Porém, acho que muito disso não foi devidamente alcançado nesse filme. Pelo menos, não em sua completude. 

Sei que não seria a mesma intenção e nem sequer são filmes do mesmo gênero, mas senti falta de algo na pegada de “Janela Indiscreta”, já que a comparação é praticamente automática dado o cenário retratado. Para citar outro exemplo, um filme mais recente chamado “Observador” também traz uma tensão gostosa nessa mesma lógica. Reconheço que a perspectiva e a função desse artifício narrativo teriam uma utilização completamente diferente aqui, dado, principalmente, aos gêneros dos filmes, mas acho que é uma circunstância tão única que poderia ser melhor explorada para buscar dar uma atiçada no espectador, aliado a um desenrolar mais condizente da trama em paralelo a isso, claro.

Duas coisas centrais me incomodaram bastante aqui. A primeira delas é a direção, que prefere apostar muito no seguro do drama novelesco e não se aventura em algo mais excepcional, deixando de explorar um suspense e uma tensão, que são palpáveis na narrativa, o que acaba perdendo um pouco da profundidade da situação única. O filme fica apenas no raso na maior parte de sua duração, sem um aprofundamento substancial nem sequer em sua personagem protagonista, que é desenvolvida psicologicamente em poucas cenas expositivas e através dos seus trejeitos cotidianos.

Por falar nisso, essa é a segunda coisa que me incomodou. A senhora insuportável não ganhou minha simpatia, o que contribuiu para que minha imersão fosse bem comprometida. Entendo que seja do feitio dela e que ela ganhou esses trejeitos com a idade, mas não posso negar que isso me tirou bastante do meu envolvimento com aquele drama social que cambaleava em ser construído. Ressalto que isso não vem da parte da intérprete. A ótima Fernanda Montenegro entrega o que se espera de seu papel, mas a falta de profundidade da sua personagem vem do desenvolvimento do roteiro.

Apesar de esse ser um ponto importante e que atrapalhou minha experiência por fragilizar minha imersão, acho que o que realmente se sobressai em relação às minhas ressalvas negativas é a condução do filme. Achei a direção o tempo todo meio engessada e/ou robótica. Em certos momentos há sim belos acertos e uma construção de ambiente interessante, mas na maior parte a direção se mostra bem superficial, o que pode até expor uma visão meio estereotipada. Como é baseado numa história real, algo disso ainda é entendível, mas é uma problemática que o filme poderia justamente evidenciar de uma maneira mais sutil. Questões de raça, de classe e gênero parecem ter sido pinceladas sem muito apreço às camadas de desenvolvimento que poderiam doar à história.

Um fake plot que acontece lá para o meio do filme foi o que chegou mais perto de gerar uma tensão na trama, que até me impactou um pouco mais. Acho que foi uma escolha acertada e que gera um movimento mais inesperado para a narrativa, que se mostra como um rio tranquilo que está correndo entre margens caóticas. Tudo ao redor parece estar desmoronando e o roteiro tenta deixar isso bem claro, mas essa iminência não consegue ser transmitida para o espectador. Pelo menos no meu caso não foi. E isso me causou uma sensação de calmaria inconsistente com o que o filme parecia se propor. Não senti em momento algum, a não ser no pequeno trecho ressaltado acima, uma apreensão ou receio pelo futuro da protagonista, o que, considerando a situação, é um certo desperdício.

Sempre ouvi que não se deve julgar um filme exclusivamente pelo que você espera dele ou pelo que ele poderia ter sido, então reconheço que a linguagem adotada não foi da minha preferência, mas consegue sim contar aquela história de maneira satisfatória a seu modo e vai angariar seu próprio público com isso. Dessa forma, a obra serviu como um conto biográfico interessante e um entretenimento despretensioso que faz-nos pensar um pouco a respeito de sua problemática, mas sem se aprofundar tanto quanto poderia.

Nota do autor:

Avaliação: 3 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalVitória
Lançamento2025
País de OrigemBrasil
DistribuidoraSony Pictures
Duração1h52m
DireçãoAndrucha Waddington

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