Filmes que exaltam a diversidade do cinema brasileiro para comemorar o dia do cinema nacional
O dia 19 de junho é celebrado como o dia do cinema brasileiro pois nessa data em 1898 teriam sido filmadas as primeiras imagens em movimento no Brasil. Mesmo que essa data em específico seja contestada posteriormente por motivos de validade histórica do ocorrido, a importância de se comemorar essa data permanece ainda muito relevante. Por essa razão, trouxemos aqui uma lista de indicações de obras nacionais que achamos interessantes para conhecer um pouco das minucias aos grandes clássicos do nosso cinema.
O Brasil sofre muito com o chamado “complexo de vira-lata” quando o assunto é cinema. O grande público, desde o surgimento dessa arte no país, foi acostumado à linguagem e aos trejeitos do cinema estrangeiro e, mais especificamente, foi bombardeada pela hegemônica indústria hollywoodiana. Dentre alguns respiros, mortes e renascimentos, o cinema nacional sempre existiu e produziu grandes obras, mesmo que muitas longe do alcance necessário para fazer sucesso entre a população. Essa mostra pretende apresentar uma pequeníssima amostra do que o cinema nacional pode proporcionar de melhor aos seus espectadores. E não só isso. Gostaríamos também de ressaltar que o cinema nacional, por mais que próximo, é um território vasto a ser explorado pelos próprios brasileiros e com certeza, dentre tantas obras antológicas, uma vai conseguir te conquistar a experienciar mais e mais produções nacionais.
Experiências marcantes, clássicos ou desconhecidos, obras que ficaram guardadas no imaginário do espectador. São filmes assim que trouxemos para essa seleção de 13 obras do cinema nacional. Só relembrando que a lista não segue nenhuma ordem de preferência ou ranking. Os filmes exaltam o melhor que o cinema brasileiro pode nos proporcionar, desde diversão inesquecível até reflexões indispensáveis.
o Auto da compadecida (2000) Dir. guel arraes
Seguindo dois pobres sujeitos de Taperoá, cidadezinha pobre do interior da paraíba, a trama nos apresenta as tramoias de João Grilo e seu companheiro Chicó. Juntos eles sempre estão se metendo em enrascadas e sempre dando um jeito de sair delas, mesmo que para isso tenham que se meter em uma ainda maior. A grande cabeça pensante por trás dessas artimanhas é João Grilo que tem um raciocínio impressionante quando o assunto é enganar as pessoas. Chicó por outro lado fica por conta de inventar histórias “fantabulosas” e terminar com sua clássica frase: “Não sei, só sei que foi assim”.
O filme/minissérie se destaca em tudo. Começando pela direção com uma excelência em nos mostrar tudo o que precisamos saber, mas sem se alongar em nada e sem deixar faltar um detalhe sequer. É um clássico da cinematografia moderna brasileira que já assisti inúmeras vezes e jamais deixei de dar boas risadas.
Nota:
Indicação: Linaldo Fernandes
Cidade de deus (2002) Dir. Fernando Meirelles, Kátia Lund
Buscapé é um jovem da comunidade Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, que observa o lugar em que vive por trás das lentes de sua câmera. Desde novo, demonstra grande talento e aptidão pela fotografia, o que faz seu caminho se distanciar do de outros jovens que acabam entrando no caminho da violência e do crime. Assim, acompanhamos a história de vida e amadurecimento de alguns jovens locais, com uma realidade permeada por muita opressão e violência.
O filme é um dos mais importantes do cinema nacional, sendo um dos marcos do chamado “cinema da retomada”, um momento de renascimento do cinema brasileiro, que se iniciou na década de 90. A obra foi exaltada pela crítica nacional e internacional pelos seus grandes méritos técnicos e artísticos e levou o nome do Brasil para o exterior com 4 indicações ao Oscar de 2004.
Nota:
Indicação: Gabriel Santana
Lisbela e o Prisioneiro (2003) Dir. Guel Arraes, Ligia Feliciano
No interior de Pernambuco, um charlatão vigarista mulherengo ganha sua vida com diferentes golpes que aplica na população das cidadezinhas em que passa. Com sua clássica Veraneio equipada com alto-falantes, em uma dessas cidades, chamando a atenção dos transeuntes, Leléu acaba se envolvendo com Inaura, que é casada com um conhecido matador da região. Pego no flagra, Leléu foge para a cidadezinha mais próxima para continuar sua vida de truques e acaba se apaixonando por Lisbela, uma adorável moça fascinada por cinema e que sonha em encontrar o amor verdadeiro, mesmo estando prometida em casamento para um qualquer lá metido a grandes coisas. O que Leléu não poderia prever é que tanto Inaura, quanto seu marido estavam à sua procura para complicar ainda mais o seu romance com Lisbela e forçá-lo a combater num território novo, o território do amor.
Além de brincar com a experiência do cinema nessa cena e durante toda a sua duração – seja pela repetição do cenário de uma sala de projeção, seja pela narração repentina de acontecimentos da trama – o filme ainda expõe a sua própria trama logo de início sem que percamos por nada o interesse em conhecermos o final, mesmo sabendo o que vai acontecer pois: “a graça não é saber o que acontece, é saber como acontece e quando acontece”.
Nota:
Indicação: Gabriel Santana
Era o Hotel Cambridge (2016) Dir. Eliane Caffé
Conhecemos, no centro de São Paulo, o grande Hotel Cambridge. O lugar é mostrado já com cenas da tubulação e sistema elétrico precário que vão nos apresentando o modo de vida daqueles moradores. Com algumas poucas cenas já somos capazes de entender do que se trata o local. O velho hotel é uma ocupação que abriga refugiados de fora e de dentro do Brasil. Com apenas algumas conversas simples conhecemos os moradores do local que, por tamanha autenticidade, dão a impressão de serem pessoas reais. E realmente há algo de autêntico ali. A história tem um fundo de realidade sim. E é um fundo bem triste. São diversos os personagens que ocupam o local e buscam uma vida melhor a partir dali.
No meio de todos os problemas que a vida já impôs aos moradores, chega a notícia da ordem de desapropriação do prédio. Enquanto tudo isso acontece, os moradores estão gravando um documentário para tentar expor aquilo para o mundo através da internet. Algo bem pensado, numa época que os smartphones ainda estavam se popularizando. Isso nos traz um palatável sabor metalinguístico para a obra tão atual que choca.
Nota:
Indicação: Gabriel Santana
o que se move (2012) Dir. Caetano Gotardo

| Gênero | Drama/Musical |
| Duração | 1h37m |
| País | Brasil |
| Onde Assistir? | (indisponível no momento☹️) |
O filme de estreia do diretor e roteirista Caetano Gotardo entrelaça, a partir do tema, a história de três mães que passam por diferentes tipos de perdas igualmente dolorosas. O longa não se destaca pelas histórias em si, que são facilmente reconhecidas nos noticiários, mas pela sutileza e poeticidade com que elas são contadas — ou cantadas. De silêncios gritantes a músicas estraçalhantes, O Que Se Move ironicamente é um daqueles filmes que te faz parar para pensar, para sentir, para doer.
Nota:
Indicação: Gessica Lima
Era Vermelho o Seu Batom (1983) Dir. Henrique Magalhães
Seguindo a onda do mês do orgulho, é inevitável falar da história do cinema queer brasileiro sem mencionar a importância do Cinema Queer de Paraíba e das produções de filmes em Super-8 de João Pessoa, entre o fim da década de 70 e o início dos anos 80. Era Vermelho o Seu Batom, em seu caráter revolucionário, consegue trazer questões extremamente atuais sobre a discriminação dentro da própria comunidade LGBT e exerce um papel significativo na história do cinema nacional.
Nota:
Indicação: Gessica Lima
O Marinheiro das Montanhas (2021) Dir. Karim Aïnouz
Sendo um dos filmes menos comentados do diretor cearense, O Marinheiro das Montanhas segue uma linha biográfica e documental para responder ao público de onde vem esse nome tão diferente, Karim Aïnouz . Às vezes responde, às vezes pede ajuda da ficção e nos pergunta algo. Às vezes é mar, às vezes é montanha; às vezes é Argélia, às vezes é Brasil; às vezes é turista, às vezes é de casa — mas sempre é saudade e beleza. Um daqueles filmes que faz você se sentir mais íntimo do diretor, pedindo licença para ouvir a história de sua vida.
Nota:
Indicação: Gessica Lima
Reflexões de um Liquidificador (2010) Dir. André Klotzel
Um filme de André Klotzel e com atuações principais de Ana Lúcia Torre e Selton Mello, o mesmo dublando o liquidificador.Elvira é uma dona de casa que está passando por uma situação difícil, seu marido desapareceu e ela vai à polícia prestar queixa entretanto, seu liquidificador concertado à apenas alguns dias ganha vida, e conversa com Elvira e assim desenvolvendo toda a história com ela, sendo quase como um companheiro.
Um suspense divertido, é fascinante assistir essa obra que mescla tão bem gêneros tão distintos de uma forma tão leve e muito bem feita. Somos carregados pela história e pelo carisma dos personagens, toda a ambientação é impressionante, trás uma nova perspectiva de cinema nacional para o público com muita qualidade e criatividade, se cumprindo no que promete.
Nota:
Indicação: Sophia Oliveira
Vou Rifar meu Coração (2011) Dir. Ana Rieper
Um documentário cuidadoso e acolhedor. Ana Rieper nos mostra a recepção da música brega no imaginário e social brasileiro. A intensidade do amor e da identificação com a música, arte que toca à todos. Diversas pessoas em suas muitas realidades são entrevistadas, além de célebres artistas como: Agnaldo Timóteo, Amado Batista, Lindomar Castilho, Nelson Ned e entre outros, todos sendo ligados pela paixão e pelo romance. Um filme para assistir e sentir orgulho de ser brasileiro, para compreender e valorizar a cultura nacional, que é nossa e única, além de se identificar com aquilo que grande parte do Brasil sente, amor profundo.
Nota:
Indicação: Sophia Oliveira
Rio, 40 Graus (1955) Dir. Nelson Pereira dos Santos
Uma obra de Nelson Pereira dos Santos, diretor do emblemático Vidas Secas (1963); em Rio, 40 graus trás um semi documentário que hoje é considerado um dos precursores do Cinema Novo brasileiro, um movimento de absurda importância para o desenvolvimento do audiovisual brasileiro. No filme, Nelson muda a perspectiva que todo o mundo tem do Rio de Janeiro como apenas praia, riqueza e beleza, trás o Rio cru e desigual, a narrativa acompanhando meninos que descem o morro para vender amendoim em Copacabana. Um filme dos anos 50, mas extremamente atual, retrata o Brasil com afinco e sem exageros, e sendo marcado por uma fotografia emblemática. Creio que seja algo que todo brasileiro deva assistir pelo menos uma vez na vida, é um filme para se pensar.
Nota:
Indicação: Sophia Oliveira
DOSSIÊ RÊ BORDOSA (2008) DIR. CÉSAR CABRAL
Nesse documentário falso acompanhamos a investigação sobre a morte de Rê Bordosa, personagem icônica do cartunista Angeli, que foi assassinada em 1987 por ninguém mais que o seu próprio autor. O filme apesar de apostar muito em uma comédia que beira o politicamente incorreto, ainda traz pensamentos sobre o tal “crime”, visto o seu teor metalinguístico. Além do stop motion muito interessante, o filme consegue instigar até quem não tem muito contato com a obra de Angeli, apresentando rapidamente vários de seus personagens mais icônicos.
Nota:
Indicação: Luciano Vieira
trabalhar cansa (2011) DIR. Marco Dutra, Juliana Rojas
Longa metragem de estreia da dupla de diretores, Trabalhar Cansa não só nos apresenta uma realidade duramente capitalista, mas também uma verdadeira experiência de cinema de gênero. Aqui utilizando-se do terror, a dupla mostra no dia-a-dia desse casal em situações comuns que, porém, são transformadas em situações aterrorizantes a partir da direção. Tudo aqui parece oprimir esses personagens, seja na falta de planos mais gerais ou até mesmo na paleta de cores quase morta do supermercado. Aqui tudo parece ter sido filmado em uma São Paulo estéril e quase morta. Um filme de mais de dez anos atrás, mas que continua mais atual que nunca.
Nota:
Indicação: Luciano Vieira
Vida Nova por acaso (1970) DIR. odilon lopez
Nesse filme pouquíssimo conhecido na nossa história, vemos a história de uma dupla de batedores de carteiras em pequenas desventuras. Quase um predecessor de Corra! do Jordan Peele, aqui somos apresentados a um filme que falará de não só classe, como também de raça, usando ironias e até mesmo, mais para meio e final do filme, um flerte com o cinema experimental e o de ficção científica. Um filme muito singular em forma e principalmente em conteúdo, ainda mais na década em que foi lançado.
Nota:
Indicação: Luciano Vieira
Fica de menção honrosa aqui o já clássico recente “Ainda Estou Aqui” que foi muito importante para uma certa retomada da relevância da sétima arte no Brasil no último ano – ao menos ao grande público – com sua conquista do Oscar 2025. Uma obra que se você ainda não viu, merece a apreciação.
Num país que ainda tem tanto a explorar e descobrir sobre o seu próprio cinema, essa seleção busca dar um pequeno roteiro de produções interessantes a se assistir não só nesse dia, mas sempre que você buscar um entretenimento de qualidade, seja um que divirta ou que te faça pensar.

Confira essa lista de filmes no Letterboxd:


























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