Esse é um documentário produzido e dirigido por mulheres e que reconta a história clássica da ascensão do cinema hegemônico norte-americano por lentes muitas vezes esquecidas da história da sétima arte. A abordagem que essa obra faz do passado me tocou bastante, tanto por alterar a minha visão acerca da história clássica que predomina nos livros de história, quanto pela sua realização perspicaz que acaba deixando uma mensagem importante para nós que pensamos em fazer parte desse meio artístico.
O filme mergulha nos primórdios da arte cinematográfica, abordando em especial o cinema dos Estados Unidos, que teve uma ascensão histórica e veloz devido a vários fatores. O que essa obra faz questão de elucidar é o papel importantíssimo que as cineastas tiveram nessa jornada como um desses fatores. Mesmo com a importância ímpar de várias mulheres de estarem presentes desde o começo de tudo, quando a arte se industrializou e virou uma atração comercial gerida por homens, tais mulheres começaram a ser subjugadas e pior: começaram a serem esquecidas e apagadas da história.
O que esse documentário faz questão de mostrar é o ponto de vista feminino da arte do cinema, entrevistando mulheres que à época estavam no meio cinematográfico em paralelo à uma revisita a história do cinema, mas dessa vez sem ocultar ninguém ou deixar que elas sejam ofuscadas por um homem que se tornou notável naquele período ou algo do tipo.
O filme aborda o papel feminino na sétima arte que se iniciou como um exercício de curiosidade coletiva e pioneirismo, já que a arte era desvalorizada como trabalho e por isso sobravam mais espaços para elas no proêmio do cinema. Após o entendimento dessa arte como forma lucrativa de indústria, os homens começaram a dar mais valor aos filmes e por isso as mulheres foram segmentadas apenas como estrelas atraentes para servir como símbolo e não mais com papéis criativos para as obras. Mesmo as que atuavam na montagem – elemento fundamental para a produção fílmica – não recebiam qualquer crédito criativo pelo seu trabalho. As mulheres só começaram a retornar, então, à esses postos nas décadas mais recentes e mesmo assim em número muito menor ao dos homens.
Eu gosto muito de história e a forma como esse documentário me possibilitou revisitar muitas das minhas convicções a respeito do desenvolvimento do cinema me fez enxergar muito mais do que eu imaginava. Depois de assistir, é possível entender como a sociedade influencia muito todos os setores artísticos e comerciais do mundo. O cinema não haveria de ser diferente. Além disso, o tom que a obra tem e a maneira como a perseverança da mulher na arte é exposta chegaram a me emocionar em algumas partes. Perceber o quanto a história pode ser injusta e parcial ainda serve como alerta para muitas outras certezas arcaicas que temos serem revistas.
O mundo do cinema precisa ser aberto e acolhedor para todos pois essa arte, mais do que qualquer outra, exige uma participação coletiva única que faz do filme uma construção de várias mãos, mesmo que apenas os diretores, geralmente, sejam lembrados e mesmo que muitas dessas mãos nem sequer assinem seus nomes nos créditos finais e nos livros de história. Esse curto documentário é um bom ponto de partida para essa transformação na visão.
Nota do autor:
Gabriel Santana

| Título Original | Et la femme créa Hollywood |
| Lançamento | 2016 |
| País de Origem | França/EUA |
| Distribuidora | Wichita Films |
| Duração | 52m |
| Direção | Clara Kuperberg, Julia Kuperberg |
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