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A Sociedade da Neve [Crítica]

“A Sociedade da Neve” é um filme espanhol que conta a história real por trás de um trágico acidente que aconteceu nos Andes na década de 70. O filme se tornou notável pela sua realização perspicaz e uma abordagem tanto psicológica, quanto física das condições degradantes da situação em questão. Para mim a obra foi bem correta na sua realização e certeira nos seus objetivos, mesmo que eu tenha sentido falta de um laço um pouco mais forte de carisma.

Um grupo de jogadores de Rugby parte do Uruguai com destino ao Chile em um avião com diversos outros acompanhantes, mas no meio do caminho se deparam com a imensidão gelada dos Andes que acaba causando a queda da aeronave. Após o desespero inicial, os sobreviventes precisam enfrentar situações cada vez mais agoniantes, sejam elas físicas ou morais, para tentar sobreviver por mais alguns meses até a possível chegada de ajuda.

Em algum momento do passado eu já tinha ouvido falar dessa história, mas não com muita profundidade de detalhes quanto essa obra foi capaz de me expor. De qualquer maneira, minha experiência foi bem desprendida de demais influências e assim eu pude assistir ao filme sem quase nenhuma informação extra desnecessária. Por ser uma história baseada em fatos reais, o impacto de relembrar que aquilo, de alguma maneira, aconteceu é bem perturbador, mas também revela uma capacidade de perseverança incrível do ser humano.

Um dos pontos chaves dessa obra é a sua retratação coerente da realidade. A crueza como nós acompanhamos a degradação dos jovens sobreviventes é tocante e daí podemos perceber como os realizadores se atentaram aos mínimos detalhes. É possível perceber a passagem de tempo não somente pelas mudanças no cenário desgastado do avião caído, mas também em cada um dos personagens que carregam em seus semblantes o medo e o desespero provenientes da situação aterradora em que se encontram.

Por mais que o filme tenha um narrador, acredito que este não chegue a ser um protagonista ou pelo menos não desempenhe um papel de destaque tão grande como um protagonista costuma desempenhar em outras obras. Aqui o protagonista na verdade é o grupo de sobreviventes que passam pelas dificuldades juntos, como um time. Isso talvez tenha me afastado um pouco da obra, de certa maneira. Com a ausência de um personagem que nos apresentasse de fato àquele lugar, eu me senti bem desnorteado para saber quem era quem, até mesmo pelo fato de serem dezenas de pessoas numa situação tão claustrofóbica e agoniante que eu nem me atentei a lembrar dos rostos de ninguém. Como o foco narrativo é justamente o grupo, acho que esse não seja um demérito tão grande do filme.

Achei a fotografia muito boa e toda a parte técnica dessa obra bem desenvolvida. O enredo dramático da obra é capaz de nos transportar por toda a narrativa sem tantas dificuldades, mesmo que o ritmo em alguns momentos seja lento para refletir o cansaço e a exaustão de passar meses numa situação cruciante como aquela. Mesmo sendo bem competente, acho que o meu envolvimento não foi excepcional, mesmo nunca perdendo a curiosidade ou o interesse por acompanhar a história e saber o que estava por vir.

O que essa história real é capaz de deixar como herança e que o filme conseguiu absorver muito bem é a capacidade de superação e resistência humana. Mas grande parte disso vêm atrelado a outros questionamentos filosóficos importantes. Aqui somos confrontados com o que seria o limite da moral em detrimento da sobrevivência humana. Numa situação como essa seria correto transpassar totalmente os limites dos princípios e regras da honra? Há nesse aspecto também uma influência da religião no assunto, que é um tema bem abordado na obra. Com a situação desgastante, nem o corpo nem a mente conseguem sair ilesos e esse desespero acaba tornando o sofrimento ainda maior.

A deterioração física e psicológica das pessoas naquela situação nos deixa boquiabertos de lembrar que aquilo realmente aconteceu. Muitas cenas apresentam momentos de agonia coletiva e até mesmo quando as pessoas tentam se esquecer da circunstância terrível na qual estão inseridos, o ambiente inóspito faz questão de relembrar a todos o quão delicado é o cenário. Ainda assim, é possível se impressionar com a capacidade de perseverar que aquelas pessoas tiveram para sobreviver. O filme também é inteligente em mostrar como aquele ambiente influenciou a mente daquelas pessoas e como passar por uma experiência assim deixa cicatrizes incuráveis, numa disputa de fragilidade entre o corpo e a mente, onde muitos tiveram que escolher qual abandonar primeiro.

Acredito que eu tenha me atido majoritariamente ao lado dramático e narrativo da obra, mas esse foi justamente o elemento central do filme e que mais conseguiu me cativar, mesmo que eu não tenha encontrado tanto carisma nas demais propriedades do longa. Enfim, esse foi um filme duro, cruel e desgastante que funciona como uma experiência prática de empatia e que exalta o companheirismo humano como condição de sobrevivência primordial.

Nota do autor:

Avaliação: 3.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalLa sociedad de la nieve
Lançamento2023
País de OrigemEspanha/Chile/Uruguai/EUA
DistribuidoraNetflix
Duração2h24m
DireçãoJ.A. Bayona

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