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Nós [Crítica]

Dando sequência na filmografia de Jordan Peele, vamos para o seu segundo filme. Nessa segunda experiência, por mais que o filme tenha conseguido me afetar mais em relação ao terror em si, não obtive a mesma imersão do seu primeiro longa. Não que esse deixe de ser um terror social com ideias e uma premissa muito interessante, mas a abordagem mudou e com isso houve acréscimos e decréscimos na sua execução, a meu ver.

Na trama acompanhamos uma família formada por um casal e seu casal de filhos que vão passar suas férias de verão numa casa em uma localidade mais isolada e particular, porém, no local, coisas estranhas começam a incomodar a mãe que estranhamente se vê conectada a uma situação traumática da sua infância. Isso tudo ainda piora quando, uma noite, a sua casa é invadida por pessoas estranhamente parecidas demais com a sua família.

Jordan Peele continua super detalhista e meticuloso em suas críticas e amarras que se conectam a realidade de maneira perspicaz. Aqui podemos ver suas marcas em detalhes sutis que expõem avisos e sinais de uma possível ameaça e a partir daí eu consigo traçar alguns paralelos das minhas experiências com os dois filmes dele que eu assisti até agora. Falando das semelhanças eu posso afirmar que o capricho a respeito das minúcias da trama são extremamente inteligentes nos dois casos. Um segundo ponto é que eu estranhamente desconfiei de um desfecho da narrativa desde o princípio, algo que também aconteceu em “Corra!”. Acredito que isso não diminui a experiência em nada, assim como lá no outro longa, mas serve para demonstrar como a narrativa se fecha em si mesma com um desenrolar que respeita uma coerência interna.

Partimos então para alguns pontos de diferença em relação ao primeiro filme do diretor. O terror aqui desta vez é mais visceral e obedece a uma estrutura do suspense mais clássico, com cenas mais clichês e algumas escolhas narrativas que me incomodaram um pouco durante a assistida. Posso dizer que foi aí que eu perdi um pouco da imersão com o filme. Nada que me pudesse deixar de sentir receio pelos personagens, mas foi um ponto negativo que o filme acabou absorvendo junto com a estrutura mais clássica de um terror convencional. Mas, por outro lado, acredito que existam apenas toques desse modelo “convencional”, pois a criatividade de Peele aparece com louvor em sua trama e nas críticas sociais sempre muito bem levantas que impedem do filme se tornar apenas um “mais do mesmo”.

A visceralidade com certeza conseguiu me deixar ainda mais sem fôlego que seu antecessor, “Corra!”, criando uma atmosfera ótima de suspense e um bom desenvolvimento de personagens, mesmo que breve, conseguiu me arrancar suspiros pelos protagonistas em cena. A intensidade maior de um terror mais físico e não psicológico acabou me fazendo ter menos tempo para raciocinar a respeito das ideias e das críticas abordadas, me parecendo um tanto quanto mais raso em relação a isso. Talvez, tenha sido apenas eu que tenha me apegado demais em uma direção e perdido seus pontos de referências para o social, mas acredito que não seja o caso. Pois bem, se no primeiro filme citado o terror gira em torna dessa perspectiva de crítica social, aqui essas temáticas sociais estão imersas numa história de terror mais independente.

Chegando a parte da trama que me deixou boquiaberto na sua finalização, os detalhes como sempre são bem utilizados ao longo da história para se encaixarem muito bem na conclusão. Dessa vez a crítica social é voltada aos esquecidos da sociedade, a classe que vive no mesmo local que os mais afortunados vivem, mas de forma bem diferente destes. O diálogo “– O que são vocês?” “– Nós somos americanos” ajuda-nos a entender como um povo pode não se reconhecer o suficiente para enxergar os problemas mais graves da sociedade contemporânea. Essa discrepância e a estratificação social que causa tudo isso são pontos chave aqui. A utilização da mídia e da população como massa de manobra da opinião pública são também reais comentários bastante interessantes para interpretarmos. Unindo tudo isso, chego a conclusão, e espero que tenha me feito entender, como esse filme é um exercício de autoidentificação, de como um povo não consegue se enxergar em si mesmo.

Por mais que a abordagem tenha se alterado um pouco e isso tenha me desagradado em partes, é óbvio que eu não estava esperando um filme igual ao seu anterior e por isso consigo ver em Jordan Peele aqui uma condução excelente que consegue utilizar muito bem do gênero do terror para nos deixar uma perspectiva realmente importante para o contexto social que vivemos. De maneira diferente, uma experiência realmente surpreendente a assustadora como foi com seu primeiro longa.

Nota do autor:

Avaliação: 3.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalUs
Lançamento2019
País de OrigemEUA
DistribuidoraUniversal Pictures
Duração1h56m
DireçãoJordan Peele

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