Esse é um filme clássico do neorrealismo italiano que traz os elementos mais primordiais do gênero e expõe sua realística representação da sociedade italiana do período pós-guerra com uma veracidade assustadora. De trama simples e desenvolvimento lento e contínuo, as mensagens que o filme carrega são bem mais profundas do que a própria história que se passa.
Trazendo um enredo particularmente simples, Ladrões de bicicleta se destaca pela sua forma de contar a história e pelo contexto histórico e social da trama. Nela conhecemos um pai que precisa de uma bicicleta para conseguir um emprego que pra ele parece ser dos sonhos, como colador de cartazes nas ruas de Roma. Pra conseguir comprar sua bicicleta ele e sua família tem que fazer sacrifícios, mas enfim ele consegue a tão sonhada vaga, porém, como o próprio título nos adianta, sua bicicleta é roubada e aí começa sua jornada de busca pelo seu objeto de desejo ao lado de seu filho Bruno. No final, a bicicleta nada mais é do que a representação da felicidade para a família de Antônio, o pai. Interessante como a condução do filme consegue transformar esse causo no elemento motor do longa e todas as consequências posteriores vão ocorrendo sem nenhum tipo de forçação. Esse é justamente um dos elementos do neorrealismo, que traz uma trama bastante corriqueira com acontecimentos cotidianos que poderiam muito bem ser reais, se é que não foram. O filme ganha assim um aspecto documental e serve muito bem como documento histórico pois representa a miséria, a destruição e a desolação do pós-guerra e pós fascismo na Itália do final dos anos 40. Com essa crueza na representação da cidade e de seus habitantes, a grande Roma parece ser apenas uma cidadezinha com milhares de pessoas desesperadas para sobreviver e perde aquele famoso ar turístico de grande metrópole. Muito bom perceber como o filme consegue construir essa atmosfera e parte disso vem da sua escolha por utilizar pessoas normais no lugar dos atores, dando ainda mais um ar de realismo e fidedignidade. O longa consegue trazer críticas pertinentes a desigualdade, a pobreza e ao contraste das representações da realidade da época, com uma alfinetada ao cinema que tentava se afastar da realidade, mas ao mesmo tempo trazendo desenvolvimento de personagem surpreendente. A grata surpresa do filme é o Bruno, filho de Antônio que o acompanha pela cidade em busca de sua bicicleta. Ele é o elemento que dá toda a carga dramática ao filme e que induz o pai a tomar suas principais decisões, mesmo que essas, muitas vezes, não sejam as melhores. O filme demonstra como o garotinho tem de passar por uma jornada de amadurecimento forçada para suportar o seu pai e o apoiar como um companheiro e não como um filho. E tudo isso numa narrativa cotidiana que tem seu final emblemático numa cena que resume bem a mensagem central da obra, com o pai e seu filho se perdendo na multidão e se misturando a massa de pessoas que estão na mesma situação que eles, dando ainda mais significado ao título no plural.
Essa é uma obra histórica que tem muito a dizer sobre seu tempo e ainda tem muito o que dizer sobre nós atualmente. Sendo um dos clássicos do cinema e um dos – se não, o – maiores expoentes do neorrealismo, o filme merece ser observado com um olhar mais atento as sutilezas que a trama traz e não apenas a história que vemos no filme. Acredito que essa seja a ideia, trazer uma pequena passagem realista para expor as dificuldades cotidianas de uma população devastada e quase sem esperanças. A maneira como o diretor consegue transmitir essas mensagens perspicazes é de se admirar até hoje.
Nota do autor:
Gabriel Santana

| Título Original | Ladri di biciclette |
| Lançamento | 1948 |
| País de Origem | Itália |
| Distribuidora | MUBI |
| Duração | 1h29m |
| Direção | Vittorio De Sica |
Onde Assistir?
(não oficial)





Deixe um comentário