Persépolis [Crítica]

Persépolis conta uma história animada no estilo documental que foi escrita a partir das memórias da sua protagonista. Uma história cativante que consegue nos emocionar com seu realismo, sem perder os toques de fofura, humor e críticas à sociedade em que a história se passa. Sem perder o peso dramático, o longa é uma viagem imersiva pela vida de sua protagonista que nos leva por caminhos de aprendizado e reflexão.

Essa obra francesa de 2007, conta a história de Marjane Satrapi, protagonista e também diretora do longa, que busca transportar-nos através de suas memórias para os momentos que vão da sua infância até sua vida adulta. Nessa jornada podemos observar sob sua ótica as transformações da sociedade do Irã, sua pátria natal. Conhecemos a vida de Marjane ainda mocinha, com seus sonhos e ambições de criança que logo vão se chocando com uma realidade radicalmente volátil do seu país. Podemos assim ter uma nova visão e interpretarmos melhor as mudanças sociais desse lugar tão diferente para nós do Ocidente através de uma vivência real e intimista. Intimista também é a maneira como a história nos é contada, através de vários causos da vida de sua protagonista. Nessa obra a animação é extremamente eficaz para ilustrar de maneira esplêndida o desenrolar da trajetória de vida de Marjane e da sociedade em que ela vive. Conhecemos sua família, seu país e suas ideias da forma mais íntima e cativante, nos tornando parte disso tudo. É interessante como a narrativa adota um tom realista e coeso para expor as mudanças ocorridas na sociedade iraniana e como a religião foi usada como forma de dominação e imposição dos costumes de alguns para a maioria. Interessante também é perceber que mesmo na sociedade ocidental que se diz desenvolvida e inclusiva, os “diferentes” são tratados, muitas vezes, de maneira pior do que nos seus ambientes de origem, mesmo em tempos complicados e degradantes. Essa realidade não mudou muito e, mesmo com a diferença de alguns anos, a temática dos refugiados pode ser interpretada a partir dessa obra para os dias de hoje com total coerência. Além disso, o filme consegue direcionar muito bem essas críticas e expor contextos totalmente entendíveis para nós que talvez tenhamos um olhar um pouco distante, sem deixar de lado a nossa empatia, pois a nossa ligação com a protagonista é estabelecida com laços fortes e sua trajetória de vida, por mais dura que seja, nos causa uma identificação impressionante. A direção é competente até na introdução do humor a trama, para destoar do clima pesado que a narrativa pode nos carregar. São pitadas certeiras que nos ajudam a ficar ainda mais engajados no desenrolar da história e da vida que está sendo exposta na tela. A história, o estilo e a ideia do filme me lembraram muito o indicado ao Oscar de Melhor Documentário do ano passado “Flee”, que traz um contexto muito parecido e depois de assistir Persépolis, acredito que essa obra realmente tenha sido uma grande inspiração, pois a narrativa é praticamente igual e os temas muito semelhantes. Ambos se provam como obras coerentes e tocantes que conseguem expor suas mensagens de forma eficaz e cativante, arrancando lágrimas e reflexões edificantes.

Fico feliz de conhecer uma obra tão importante e, ainda hoje, super relevante para entendermos o que pode ser, para nós, o diferente. Às vezes é o cinema que consegue transpor essas barreiras e nos levar a uma visão de mundo muito mais humana e fraterna. Acredito que cada um que tem a chance de enxergar o mundo pelos olhos de outra pessoa, como é o que acontece nesses 95 minutos de Persépolis, pode se tornar um ser humano mais compreensivo e acolhedor. É realmente uma experiência construtiva e inspiradora.

Nota do autor:

Gabriel Santana

Título Original	Persepolis
Lançamento	2007
País de Origem	França/EUA
Distribuidora	Europa Filmes
Duração	1h36m
Direção	Marjane Satrapi, Vincent Paronnaud