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Assistir como um crítico? [Comentário]

Sempre me perguntei qual era a linha que separava o espectador convencional e o crítico de cinema.

Geralmente eu não costumo trazer textos pessoais aqui, a não ser nas retrospectivas de final de ano, mas senti que seria proveitoso trazer aqui essa discussão sobre um pensamento recorrente meu e que veio novamente a minha mente nos últimos dias. Além disso, precisava de um pontapé inicial para retomar as minhas escritas depois de um hiato enorme.

Passei bastante tempo sem escrever críticas dos filmes que vinha assistindo, quebrando com minha prática de sempre escrever sobre todos os filmes que assisto. Desde que comecei com o costume, esse sempre foi um hábito que me orgulhava. Infelizmente minha vida começou a ser um tanto mais caótica e acabei me perdendo nas minhas demais tarefas, principalmente devido ao curso de Cinema, curiosamente.

Acho que desde sempre, principalmente quando comecei a me interessar mais pela área de maneira prática, eu levei o cinema a “sério demais”. Falo isso no que diz respeito a experienciar a obra não só mais como mero entretenimento, mas também como uma linguagem que tem algo a nos comunicar em suas entrelinhas. Mesmo assim, acredito que nunca perdi a visão de uma obra cinematográfica como um meio de entretenimento.

Porém, observei uma interessante mudança nas minhas preferências ultimamente, desde meados do ano passado até hoje: acabei escolhendo outras formas de entretenimento para me divertir e fugir da rotina. Sempre gostei de jogos eletrônicos, músicas e formas audiovisuais menos formais. Acabou que unindo o fato de sempre levar a sério demais o ato de assistir um filme e precisando transformar as obras que assisto em conteúdo acadêmico, isso tudo me gerou uma pressão enorme em simplesmente assistir um filme, o que ocasionou a minha busca por outras formas de me divertir como prioritárias em relação ao cinema.

Acho que isso mostra-se de certa forma irônico, tendo em vista que eu faço um curso de cinema e ver filmes é simplesmente o melhor repertório possível para minha área. Mesmo assim, nunca me senti um cinéfilo e sempre me achei aquém de outras pessoas com suas tantas referências e conhecimentos de autores, elenco, diretores e tudo mais. Talvez tudo isso tenha me gerado ainda um certo afastamento.

Quando eu me referi agora há pouco a “levar a sério demais” um filme, digo no sentido de não observar como mero espectador trivial. Mas o que me faz pensar que eu sou algo além disso? Foi aí que algo me inquietou. O que torna uma pessoa um crítico de cinema? A partir de que ponto você se torna ou está capacitado para se reconhecer como um? Qual o nível de conhecimento requerido para tal? Talvez isso tudo também seja somente eu tentando levar a sério demais essa questão na minha cabeça, mas como sempre foi uma dúvida que me inquietou, decidi refletir um pouco mais a fundo a esse respeito.

Nos últimos dias andei pensando e acho que cheguei a conclusão que não é preciso colocar tanto peso no ato de assistir um filme e ser crítico está muito ligado a isso também. A crítica cinematográfica não diz respeito somente ao repertório prévio do autor mas também ao repertório que está sendo criado ali, naquela exata prática. Está ligado mais a como o crítico se expressa a respeito da sua experiência com aquela obra e como consegue trazer reflexões únicas a partir do seu ponto de vista pessoal que possam agregar a experiência de um outro alguém com a obra, favorecendo também a discussão gerada por aquela mídia cinematográfica específica, seja ela um clássico cult ou apenas um filme de Sessão da Tarde — ou ambos.

Acho que para assistir como crítico, para além dos conhecimentos técnicos, narrativos e linguísticos que vão ser agregados a sua experiência com o passar dos anos, é preciso assistir experienciando e sentindo ao máximo as emoções que aquela obra te proporciona. Em outras palavras, acho que se há algo que realmente divide o espectador comum de um crítico é a imersão que se alcança na assistida daquela obra. Reconhecendo cada uma das sensações que um filme, série ou qualquer mídia pode ser capaz de te gerar. Assim, aliado a sua forma particular de expressar tudo isso de forma coesa e interessante, faz de você um crítico. Não importando tanto se seu linguajar é formal, acadêmico ou se carrega conceitos específicos da área do audiovisual. Dizer que um filme é confortável visualmente é dizer que ele tem uma beleza acolhedora e é também falar que a fotografia apresenta tonalidades em tons suaves e com escala de cor constante durante a obra para favorecer a identificação do espectador. Argumentar que o início do filme é desinteressante, mas lá para o final melhora, é também dizer que os dois últimos atos são mais coesos e coerentes do que o primeiro, devido a uma apressada introdução. Meti o louco aqui, mas acho que dá pra entender o que quis dizer.

Outra questão que sempre me inquieta, mas que também é bem recorrente nas minhas escritas, é o fato de que eu nunca reconheço o potencial dos meus textos, sejam eles críticos, acadêmicos ou dramáticos. Pelo menos no momento em que os escrevo. Eu sempre preciso de um distanciamento e uma releitura para poder identificar o quanto aquele meu texto tinha/tem potencial. Isso está acontecendo neste exato momento, inclusive. Acho que esse comentário está bem distante de tudo o que eu andei refletindo ultimamente, mas o que importa mais para mim neste momento é expressar um pouco desses meus pensamentos e reconstruir minha prática de escrita.

Acho que agora, depois de tudo e depois de discorrer um pouco aqui, me vejo novamente entusiasmado para criar novas coisas e produzir mais conteúdos cinematográficos. Estou ansioso para seguir meus projetos novamente e isso me deixa bem feliz. Espero que esse texto tenha sido uma conversa interessante também para você leitor(a) e que minhas reflexões tenham te feito pensar acerca de tudo o que o cinema é capaz de nos proporcionar e nos fazer criar a partir dele.

Vou deixar de indicação aqui o texto do meu artigo sobre a história do cinema, se tiver com interesse em uma leitura mais longa: Ciclo de Filmes. No mais, leitor(a), nos encontramos novamente muito em breve em minhas próximas críticas.

Gabriel Santana

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