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Como Treinar o Seu Dragão [Crítica]

O que é nostalgia? Segundo o dicionário é a saudade de algo ou algum momento bom que ficou no passado. Sentimos isso tanto em experiências boas, quanto ruins e esse filme aqui é um exemplo de nostalgia das mais gostosas, que me fez sentir novamente como se fosse uma criança. Com a nova moda dos estúdios refazerem suas animações clássicas em live-action, muitas adaptações não se saíram muito bem, mas essa aqui foi um exemplo perfeito do que se fazer nesse tipo de produção.

Felizmente, posso confirmar que se você conhece o filme original, a história aqui é exatamente a mesma. Somos apresentados a ilha de Berk, onde um povo viking luta pela sobrevivência contra terríveis dragões. Porém, um dia, Soluço, o filho do chefe da vila, acaba capturando um Fúria da Noite, uma espécie rara nunca antes observada, e descobre que os temíveis dragões talvez não sejam as bestas sanguinárias que se pensava. Mesmo sem crédito entre os guerreiros vikings e sem as capacidades esperadas para um matador de dragões, Soluço, com a ajuda do seu novo amigo Banguela, consegue usar dos seus novos conhecimentos para domar as outras espécies de dragões. O que ainda assim não é bem visto pela sua sociedade, que rejeita a coexistência pacífica. Soluço e Banguela então partem em uma jornada para provar que os humanos e os dragões podem deixar de ser inimigos para serem aliados.

Como eu falei, essa é a história clássica da animação original de 2010 e nenhuma vírgula dela foi alterada nesse novo filme. 15 anos mais tarde temos uma trama ipsis litteris da original. A direção e o roteiro de Dean DeBlois foram mantidos, o que tornou a obra mais certeira em sua missão de reproduzir o original de maneira fiel. Se o diretor canadense já havia conduzido com maestria uma trilogia que não perdeu qualidade em nenhum de seus filmes, aqui ele mantém o mesmo capricho e coesão com o cenário mais realístico. Mesmo contando com o apoio da animação digital em toda a sua duração para recriação dos dragões, os atores humanos são a grande mudança desse filme. E fico feliz em confirmar que as escalações foram perfeitas. Todos mantêm os mesmos trejeitos e o mesmo ar dos personagens animados. Não que uma adaptação não possa escolher atores diferentes para interpretar determinados personagens, ou adaptar a história ao que for proposto para a nova investida, mas aqui o que parece é que prezaram até pela semelhança física dos intérpretes, porque o Soluço por exemplo é idêntico ao seu personagem animado. E isso segue para a maior parte das outras pessoas da vila. Quando não são praticamente iguais, o jeito de ser característico de cada um é mantido sem qualquer alteração.

Para mim que cresci assistindo todo dia a série animada de “Como Treinar o Seu Dragão” e depois que conheci me tornei fã da trilogia principal, essa foi uma experiência extremamente nostálgica e um passeio mágico pelas minhas memórias de infância. Eu reassisti o primeiro filme pela última vez em 31 de dezembro de 2020, mas como já tinha revisto muitas vezes, não foi difícil para mim reconhecer de cor cada uma das cenas desse novo filme. Algo que até me surpreendeu, pois a nova obra tem 18 minutos a mais de duração, que eu sinceramente não sei onde foram adicionados. Chuto que foi no primeiro ato, com uma apresentação da ilha um pouco mais longa. De todo modo, essa é uma história ótima recontada com lentes diferentes, mas mantendo ao máximo a fidelidade ao seu material de origem. Dessa forma, acho que funciona tanto como primeiro contato com esse universo, quanto – como no meu caso – como revisita ao passado e lembrança de uma história marcante.

Sabe quando você não está afim de assistir algo novo pois prefere reassistir algo que já sabe que é bom? Foi exatamente o que eu senti assistindo a esse filme. Por mais que isso soe negativo por o filme realmente não apresentar nenhuma novidade em relação à animação, – tirando o fato da nova técnica – isso me fez perceber que a mesma boa história pode ser envolvente e marcante mesmo revista dezenas de vezes. E a mesma experiência que o diretor trouxe com seu filme animado conseguiu ser traduzida para a atuação real dos atores, trazendo ainda o mesmo carisma dos seus personagens e o mesmo peso dramático das situações. A cada nova cena marcante que vinha na história, vinha também aquele sentimento de estar revendo algo icônico, algo que você sabe que ainda vai significar muito no desenrolar daquele universo. É como se estivéssemos sempre a frente dos personagens, mas se em outros tipos de filme isso pode gerar cansaço, nesse caso esse percurso não é nada custoso e ainda consegue ser envolvente.

Já que a única mudança significativa é a técnica, vamos falar dela. A construção do mundo medieval viking no filme é maravilhosa, os cenários são lindos, a cenografia conta com detalhes minuciosos e realmente dá para crer em tudo aquilo, o que favorece ainda mais a nossa imersão naquele mundo. O que contribui ainda mais para isso é a inserção precisa dos elementos gráficos. Tudo se encaixa perfeitamente sem qualquer estranhamento. É interessante perceber que os cenários de tirar o fôlego reais e os gerados por computador estão justapostos de um jeito que parece que aquele mundo mágico cheio de dragões realmente existe, ou existiu em algum momento do passado. Assim, essas lendas são trazidas à realidade de maneira tão crível que são capazes de maravilhar nossos sentidos. Tudo isso favorecido por uma história já consagrada. A trilha sonora permanece ótima e como os outros departamentos, foi em grande parte mantida intacta.

O que me faz reconhecer que o principal motivo para adorar essa obra foi a nostalgia foi que o momento que me fez derramar lágrimas foi quando a trilha clássica de John Powell tocou no filme. Nem mesmo eu recordava que essas músicas eram tão marcantes para mim. Mas pelo jeito são, pois não aconteceu só uma vez de eu me emocionar com o que eu estava vendo em tela. A adrenalina de voar acima das nuvens e o apego pelos personagens clássicos parece que foram ainda mais fortes num cenário realístico. Apesar de não ser nada complexo e nem sequer original, o filme conseguiu mexer profundamente comigo. Fazia muito tempo que uma aventura não me capturava do início ao fim com tamanho impacto como esse filme, que repito, eu já conhecia cena por cena.

Eu tenho uma tese para tentar entender os motivos para que esse filme tenha me tocado tão forte. Acredito que a trilogia tenha se saído tão bem e a história de Soluço, Banguela e os moradores de Berk tenham ficado tão bem guardados nas minhas lembranças que revisitá-los com uma roupagem diferente já foi o suficiente para querer acompanhar toda aquela jornada outra vez. É interessante rever os personagens que você tanto gosta de cara nova, pelo menos nesse caso. E com toda certeza esse filme está apoiado no gosto que já temos por eles. A jornada de provação de Soluço continua sendo tocante. A maneira como ele cria esse vínculo com seu novo pet que é uma mistura de cachorro, gato e cavalo também nos convida a ter empatia por um ser que nem sequer é real. E os vínculos e relacionamentos desenvolvidos são complexos o suficiente para não tornar enfadonha para os mais velhos uma história pensada para os pequenos.

Confesso que essa foi uma experiência ótima que eu não tinha há bastante tempo no cinema e não é querendo ser saudosista sem propósito, mas tem histórias que merecem ser vistas mais de uma vez. Como falei, tenho uma relação bem especial com essas obras e acredito que isso tenha me proporcionado um bônus nas minhas emoções, mas, sem dúvidas, essa é uma produção que acerta em sua proposta de readaptar uma história da maneira mais fiel possível.

Nota do autor:

Avaliação: 5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalHow to Train Your Dragon
Lançamento2025
País de OrigemReino Unido/EUA
DistribuidoraUniversal Pictures
Duração2h5m
DireçãoDean DeBlois

Onde Assistir?

https://youtu.be/Li5QEdWLqVc

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