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Os Guarda-Chuvas do Amor [Crítica]

Os Guarda-Chuvas do Amor é um filme de 1964 dirigido por Jacques Demy, uma figura muito conhecida por sua integração na Nouvelle Vague, mas por principalmente ser distinto dos demais diretores e produtores. Demy tem um estilo único e pessoal, muito característico pela familiaridade com musicais e a romantização, o uso do melodrama e das fabulações, uma aproximação do espectador e do cenário social com contos de fada… o impossível possível e a magia do romance em cena.

Os Guarda-Chuvas do amor é o terceiro longa metragem dirigido por Demy e conta a história do casal Geneviève e Guy, na cidade de Cherbourg na França, Geneviève tendo 17 anos e Guy 20. Guy é mecânico em uma oficina perto da loja de guarda-chuvas da mãe de Geneviève. Ao início do filme os dois já se conheciam e já se relacionavam. Somos introduzidos aos personagens com sua paixão consolidada, entretanto, a mãe de Geneviève, Émery, está às cegas sobre o amor intenso que sua filha sente pelo jovem, algo que futuramente será problema para os amantes. A loja de guarda-chuvas não está dando retorno e a situação financeira de Émery está por um fio. Neste momento a mesma descobre o namoro de sua filha e desaprova de imediato, proibindo Geneviève de ver o rapaz novamente, algo que claramente não seria feito. Em um intervalo curto de tempo após a revolta de Geneviève com sua mãe, Guy descobre que foi convocado para o serviço militar na Argélia e terá que partir por 2 anos. Os dois ficam sem chão e se veem à mercê do tempo, contando que o amor puro um pelo outro supere todas as barreiras… Mas não é sempre assim que as coisas acontecem, o tempo passa, a comunicação diminui, imprevistos acontecem e um se vê obrigado a seguir em frente sem o outro.

O filme é inteiramente musical, sempre tem alguém cantando, e as raras pausas mesmo assim não contêm completo silêncio. Uma trilha sonora ao fundo se mantém e te deixa sempre imerso na diegese do filme. Letras bem feitas, com uma sonoridade impressionante guiam todo o processo intenso que é a história de um casal fadado à separação, independente de sua vontade. O tempo parece passar mais rápido. Sinto que, se não fosse pela musicalidade das falas, toda a história seria mais arrastada e até mais densa… como música é arte e texto, a carga emocional é muito presente em todos os momentos, as coisas não precisam ser totalmente explícitas, o subtendido ou até mesmo uma mudança de timbre às vezes é o suficiente, nesse caso. A sinfonia também integra para o ar onírico do início do filme, aonde o amor jovem é forte, é o que os move e os faz respirar; juntos são fogo ardente, uma peça shakespeariana, no meio de uma cidade fria e chuvosa, que com o passar dos acontecimentos vai apagando o fogo e entristecendo seus personagens, deixando a melancolia pela solidão reinar, fazendo com que todos sempre anseiem por um guarda-chuva para se proteger.

Os guarda-chuvas do amor (1964), dir. Jacques Demy

As cores e a direção de arte também são parte importante da obra. No início tudo é vibrante, todos os cantos são coloridos e cheios de vida, tendo uma personalidade própria condizendo com seus protagonistas. Mas a medida que os dois vão se afastando e o poder de sua paixão vai diminuindo, as cores se perdem, o brilho apaga, as dúvidas se instauram e a cidade e os próprios personagens ficam cinzas e não mais radiantes.

Ao mesmo tempo que temos um romance profundo, temos em seguida uma dura quebra de expectativa, nem tudo acontece da forma que queremos nem quando queremos, é preciso tomar decisões difíceis que não são necessariamente as mais bonitas e sim as possíveis. O conto de fadas deixa de ser real, somos transportados para o cenário do concreto e o filme faz essa transição de uma maneira delicada e aos poucos. Mesmo sendo o cru, ele não é direto e sim uma construção.

A obra é bela em todos os sentidos, até sua construção de planos é pensada para trazer intimidade do espectador com a história, a qual é um melodrama sem sombra de dúvidas. Sempre o exagero de sentimentos, tudo é muito, o sentimento sempre é imenso e a falta do mesmo é a morte. Um filme de se sentir, absorver e internalizar, com atuações muito bem feitas e uma construção narrativa ideal, é algo que creio que todos devam ver pelo menos uma vez na vida.

Nota da autora:

Avaliação: 5 de 5.

Sophia Oliveira

Os guarda-chuvas do amor (1964), dir. Jacques Demy
Título OriginalLes parapluies de Cherbourg
Lançamento1964
País de OrigemFrança/Alemanha Ocidental
DistribuidoraJanus Films
Duração1h31m
DireçãoJacques Demy

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