Está aí mais uma adaptação dos jogos eletrônicos para as telonas. Dessa vez, um jogo de terror de 2015 que traz em sua gameplay a possibilidade de o jogador escolher os caminhos a serem traçados pelos personagens. Uma premissa interessante que precisou ser adaptada de uma outra maneira para o cinema, já que o filme não abre essa possibilidade de escolha. Por mais que eu goste bastante de videogames, esse foi um filme cuja obra original eu não tinha nenhuma informação a respeito. Desse modo, não tive nenhum conhecimento prévio, assim como nenhum preconceito, que pudessem enviesar minha experiência com o filme. Porém, no final das contas, mesmo com uma premissa interessante, o longa se mostra um terror bastante previsível até para mim que não conhecia nenhuma linha da sua história original.
Acompanhamos na trama um grupo de jovens que estão numa jornada a propósito de refazer os últimos passos de Melanie, a irmã de uma das moças do grupo, antes que ela misteriosamente sumisse sem deixar qualquer pista sobre seu paradeiro, a não ser um único vídeo gravado em uma localidade isolada. Ao chegar à tal localidade, mesmo com todos já perdendo as expectativas, Clover, a irmã de Melanie, acaba encontrando uma última pista que se torna a única esperança de reencontrar a irmã perdida. Todos então seguem caminho para uma casa isolada no meio da floresta onde coisas inexplicáveis começam a acontecer bem à luz do dia. Mesmo diante do surgimento de mais perguntas do que respostas na empreitada, os amigos decidem permanecer no local, o que se mostra uma decisão infeliz quando a noite chega.
Inicialmente, preciso citar que senti um sentimento dúbio em relação aos personagens desse filme. A protagonista conta com algumas linhas a mais de história apenas para dar o pontapé inicial para a trama, mas os demais não passam muito de arquétipos simplórios no que diz respeito a suas personalidades. Mesmo assim, ainda senti que as atuações trouxeram um carisma minimamente cativante vindo de todos ali. Porém, a inteligência ambígua de alguns personagens — para não dizer todos — acabou me deixando meio desapegado de qualquer um deles. Por mais que algumas ideias e decisões surpreendam… Surpreendam não. Surpreender é uma palavra muito forte. Eu diria que certas ideias e decisões vão contra à burrice clássica de jovens em filmes de terror. Pelo menos, em certos momentos. Pois, como eu falei, esse senso não é uniforme durante todo o filme e nem sequer é constante ao mesmo personagem.
Se em uma hora os personagens usam a lógica e tentam conectar os pontos com perspicácia, em outras esquecem completamente a razão. Mas tudo isso é abarcado pelo roteiro em uma fôrma tão redondinha que, de uma perspectiva ampla, elimina qualquer tipo de medo. Não senti qualquer temor por aqueles personagens, tirando algumas ceninhas isoladas em que a construção da tensão é realmente bem feita. A todo momento parece que nada de muito ruim vai acontecer a nenhum deles. É como jogar o jogo com vidas infinitas. E por mais que o filme tente explorar essa finitude das chances de sobrevivência, chega um momento em que a obra parece se perder em sua própria mitologia e não sabe mais se apresenta uma perspectiva de desgaste e degradação dos personagens ou uma elipse sorrateira para nos transportar para um clímax inesperado e abrupto. Eu tendo a suspeitar da segunda opção e receio que a criatividade estava acabando junto ao decorrer do filme, pois as explicações e lógicas apresentadas lá pro final são bem forçadas, para dizer o mínimo. Assim como certas ideias são encaixadas de qualquer jeito na trama. O compilado de found footage é um belo exemplo disso.
Estão contidos no roteiro tanto o ponto que mais me agradou quanto o que mais me afastou do longa. Pelo lado positivo, achei a mitologia desse universo bastante interessante e a maneira como certos detalhes vão sendo descobertos de forma espaçada ao longo da narrativa ajudam a deixar a curiosidade aflorada a respeito do funcionamento de toda a dinâmica macabra da história. Por outro lado, a trama está cheia de facilitações baratas e recursos simplórios e genéricos do terror. A cena em que a Clover encontra o doutor Hill em seu laboratório é um exemplo de como a dinâmica é facilitada. Por mais que eu realmente tenha achado um artifício inteligente por parte dela usar a água e o ambiente ao seu redor como arma, a maneira como o vilão vira um patinho de borracha é patética depois de tantos anos de “experiências”.
Essa dualidade do filme em que ora me faz querer desvendar todas as entrelinhas daquele mistério, mas sem nunca trazer nenhuma resposta tão surpreendente, ora me deixa entediado com as mais simples construções de cenas de terror, mesmo sem nunca ser de fato cansativo, acabam trazendo para a experiência um saldo praticamente nulo, mas que no meu caso penderam mais para um lado. O longa apresenta uma boa dose de brutalidade para preencher os momentos mais gráficos do terror e uma trilha sonora sóbria, que serve perfeitamente para o tipo de filme, com os altos acordes acompanhados de jumpscares. Os efeitos especiais e cenografia estão satisfatórios, por mais que esse seja um filme relativamente barato de se produzir, já que a maioria das cenas são em lugares escuros e pouco espaçosos. Lugares perfeitamente montáveis em um único estúdio. Se não fossem certos detalhes sutis da mitologia e da dinâmica um tanto quanto distintas, o filme poderia muito bem ser um compilado de cenas de terror desprezíveis.
Mesmo sem ter tantos méritos próprios e originais, a direção consegue contar a história de maneira dinâmica, se aproveitando ao máximo da nossa curiosidade e tentando estendê-la até o final, por mais que isso possa significar um gosto requentado ao fim da experiência. Aí é quando finalmente percebemos que estávamos esperando pelas respostas mais óbvias entregues pelo roteiro e totalmente previsíveis desde a metade do filme. Há de se ressaltar, ao menos, que o filme não foge do seu rumo em nenhum momento e a direção é hábil para suceder as sequências de corre-corre e sustos, por mais que a dinâmica esteja mais para um Scooby-Doo do que para um horror tão visceral como ele tenta se disfarçar.
Por uma certa simpatia à mitologia, acho que ainda fui generoso na nota que atribuí à minha experiência, mas ressalto que a obra é tanto capaz de trazer um entretenimento despretensioso e fugaz, quanto entediar um expectador mais assíduo do gênero. Essas duas opções na mesma proporção. Mas, como essa última não é o meu caso, acho que pendi mais para a experiência positiva, mesmo com todas as fragilidades claras do filme.
Nota do autor:

| Título Original | Until Dawn |
| Lançamento | 2025 |
| País de Origem | EUA/Hungria |
| Distribuidora | Sony Pictures |
| Duração | 1h43m |
| Direção | David F. Sandberg |
Onde Assistir?
(aluguel)






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