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Flow [Crítica]

Animação da Letônia, Flow é um filme que causou uma verdadeira comoção em seu país de origem graças à sua vitória no Oscar de 2025 na categoria de melhor animação. Antes disso, o longa já havia feito história com seu prêmio de melhor animação no Globo de Ouro desse mesmo ano, além de conquistar várias honrarias em diversos prêmios ao redor do mundo. Esse é um filme envolvente que nos cativa de uma maneira única e cujo charme está nos seus detalhes mais singelos. É sem sombra de dúvidas uma animação surpreendente do seu próprio jeito de ser.

Acompanhamos um gatinho. Isso por si só já é bem cativante, mas enfim. Acompanhamos a sua jornada de sobrevivência quando o habitat em que ele vive é ameaçado por uma grande enchente. Assim, o pequeno felino precisa criar laços com outras espécies de animais ao dividir um pequeno barquinho navegando pelo gigantesco oceano que se forma após a inundação.

A trama, à primeira vista simples, como pode-se perceber pelo pequeno resumo que fiz, esconde mensagens bem interessantes e uma profundidade que está pulverizada nos detalhes. Mas antes de tudo, quero falar sobre um detalhe peculiar que me chamou logo a atenção no começo do filme. E foi bem no começo mesmo porque o que me refiro são as vinhetas das produtoras do filme. Enquanto grandes blockbusters têm uma ou duas empresas produtoras e uma grande distribuidora por trás do filme, geralmente produções independentes apresentam uma quantidade grande de produtoras para torná-lo realizável e com Flow isso não foi diferente. Isso são detalhes que eu gosto de prestar atenção agora que eu pretendo atuar nessa área. Mas o que me surpreendeu mesmo foi a quantidade grande de logotipos diferentes que apareceram logo no começo do filme. Na versão que eu assisti, são quase 2 minutos só de vinhetas iniciais.

Sendo um filme independente, é uma grata surpresa vê-lo como vencedor de melhor animação no Oscar desse ano. Mesmo que para mim outros filmes tenham sido melhores experiências, Flow passa uma mensagem importante para quem produz cinema, cinema de animação e cinema independente, como o próprio diretor ressaltou em seu discurso na cerimônia do Oscar. A vitória já podia ser antecipada graças ao seu bom desempenho em outras premiações, mas ainda assim é uma surpresa ver uma produção independente, de um país que não é um polo de cinema, ganhar essa premiação tão importante para a indústria. Além do mais, vale ressaltar sua indicação na categoria de melhor filme internacional também, concorrendo com “Ainda Estou Aqui”, inclusive.

Deixando de lado todos esses detalhes da produção, voltando ao filme em si. Aqui temos um longa sobre adaptação, família e laços de afeto incomuns. Enquanto o mundo de Flow é devastado, vemos se criar uma relação de cumplicidade entre alguns animaizinhos que à primeira vista nunca veríamos juntos. Uma capivara, um cãozinho, uma ave Secretário, um lêmure e, é claro, o gatinho. Juntos eles precisam lidar com suas diferenças, seus medos e inseguranças, suas necessidades e com os desafios para sobreviver naquela situação inóspita.

Eu senti muito aquela relação como a atmosfera caótica de uma família. Não me pergunte o porquê, mas eu atribuí certas funções para cada animal naquele barco. A capivara seria a mãe ou o pai, um ser mais acolhedor, mas também muito despojado e desleixado, a ave seria um indivíduo mais velho, mais sábio e mais calmo de todos ali, o lêmure, um ser ganancioso, mas inseguro, inquieto, já o doguinho seria o irmão mais novo que está sempre querendo atenção e o tempo todo quer brincar e, por fim, a gatinha seria a irmã mais velha, insegura, mas dedicada e obstinada. Essa família que se juntou por acaso acabou fazendo surgir uma relação de cumplicidade e companheirismo que nos emociona, mesmo sem nenhuma palavra vinda deles.

Mesmo sendo uma animação fofinha, acredito que esse não seja um filme exatamente infantil. Nos moldes de hoje, o filme pode até ser cansativo e lento para os pequenos, até mesmo por não ter o recurso das falas e vozes para nos manter presos o tempo todo. Por mais que tenha uma animação deslumbrante, com personagens muito bem animados e cenários incríveis, a força de Flow está em seu subtexto, sua mensagem tocante de cooperação entre os diferentes, em mostrar que precisamos estar juntos no mesmo barco, mesmo com todas as nossas diferenças. É essa a grandiosidade dessa obra. E perceber que ela vem de um estúdio independente, com poucos animadores trabalhando para torná-lo real, utilizando um software de animação Open source é ainda mais impactante.

Não vou negar que esse filme não foi um dos que mais me empolgaram, mas com certeza merece toda a sua aclamação e deve ser lembrado por muito tempo, principalmente na Letônia. Essa é a parte bonita do cinema, da arte e da cultura como um todo. Essa capacidade de mobilização, de cooperação e trabalho em equipe que tornam uma obra um símbolo coletivo para uma nação, como foi o caso de Flow.

Nota do autor:

Avaliação: 3 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalStraume
Lançamento2024
País de OrigemLetônia/Bélgica/França
DistribuidoraJanus Films
Duração1h25m
DireçãoGints Zilbalodis

Onde Assistir?
(+ assinatura)


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