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Sonic 3 – O Filme [Crítica]

Por mais que eu seja um grande entusiasta dos jogos eletrônicos, preciso admitir que nunca tive nenhum tipo de contato com a mídia original da qual essa franquia é proveniente. Porém, no que diz respeito ao universo cinematográfico a qual o filme faz parte, posso dizer que estou bem atualizado. Se tinha achado o primeiro filme bobinho, mas ainda assim divertido e o segundo uma continuação clássica que sofre da síndrome do mais e maior, acho que esse aqui é curiosamente inconstante, mas acaba deixando uma sensação final deveras empolgante e até mesmo superior aos primeiros.

Na história somos apresentados ao temido Shadow, uma espécie de cópia do ouriço azul mais rápido do mundo e que vinha sido mantida em sigilo pela organização GUN. Porém, após 50 anos preso, alguém misterioso acaba libertando o perigoso concorrente de Sonic. Assim, a equipe recém formada por Knuckles, Tails e Sonic é encarregada de deter o impostor e descobrir quem está por trás dos mais recentes planos malignos de destruição em massa.

A primeira coisa que preciso dizer aqui é: você já viu esse filme antes. Essa é uma trama já repetida à exaustão, mas que não quer dizer que não deveríamos revê-la, se bem contada. A estrutura da narrativa é simples, a comédia é bobalhona e bem infantil – em muitos casos – e os visuais são um ponto interessante. Vamos partir deles então. Tenho que confessar que, de início, mesmo já tendo assistido aos outros filmes, me pareceu um pouco difícil levar a sério umas criaturinhas que parecem pelúcia sendo tratadas com tamanha seriedade, como são no universo desse filme. Não é nada necessariamente racional, só foi um estranhamento inicial que eu tive com essa obra aqui. Isso mesmo, inicial. Logo eu consegui lidar bem e me acostumar com os visuais e também com o tom do filme.

Esse longa teve uma certa curva de imersão inconstante, para mim. Não foram só os visuais que me causaram certo estranhamento. O primeiro e o segundo atos do filme não foram nada engajantes para mim. Alguns bons momentos eu realmente ficava só observando o quanto uma ou outra piada iria se alongar a mais do que o ponto. E isso aconteceu algumas vezes. Se, por outro lado, nosso interesse não se esvai totalmente, isso é graças aos personagens que já conhecíamos das histórias passadas, de algumas poucas tiradas cômicas certeiras do roteiro e principalmente pela nova história aqui apresentada, a do Shadow. Mesmo sendo repeteca, um vilão que tem seu background relativamente bem desenvolvido numa trama, ganha pontos a mais com o espectador e torna o embate clássico entre bem e mal muito mais complexo. Ter a chance de nos colocarmos no lugar dele é importante para que os seus conflitos sejam entendidos e para que mais tarde isso surta um efeito bem importante no final da narrativa. Mas já chego lá.

Por mais que Jim Carrey tenha assinatura cômica própria, não é sempre que ela vai surtir o mesmo efeito comigo. Por exemplo, no filme “O Mentiroso” sua comédia bastante focada na fisicalidade de suas piadas funcionou perfeitamente e eu apreciei a obra com gargalhadas. Já aqui, sua grande participação não me ganhou tanto assim, em boa parte de suas aparições. Não sei se é um problema crônico de filmes que misturam animação com live-action, mas eu costumo notar que há uma certa disparidade entre as participações humanas e as animadas. Geralmente as animadas se destacam mais e as humanas ficam mais deslocadas. Acredito que isso ocorra aqui também, em menor valor, mas ainda assim ocorre. Se a caricatura dos vilões transformam eles quase que em personagens animados, os mocinhos aqui parecem ser bem vazios de emoção. Tem apenas uma sequência que a participação deles realmente me agradou. De resto, o filme é carregado pelos nossos mascotes animados, o que não é necessariamente um demérito, já que o roteiro tem noção disso e deixa o foco muito bem estabelecido neles.

Foi incrível para mim como esse filme conseguiu se superar no ato final. É um ápice tão grande que até chega a apagar boa parte da experiência rasa que eu tive com a parte inicial do longa. Há um momento de virada, em uma certa cena, que traz uma carga dramática e emotiva que me tocou profundamente, de um jeito que eu não estava esperando ser tocado por esse filme aqui. Graças a isso, a experiência com o restante do filme acaba se transformando por completo. Tudo parece que ganha um brilho a mais. Desde uma certa relação que eu estava achando meio forçada e de repente mostrou-se minimamente condizente, até mesmo a própria comédia, que parece que ganhou um incremento nos momentos finais. Se no restante do filme as piadas inspiradas não eram tão homogêneas, parece que deixaram as melhores sacadas para o final. Ou pode ser só fruto da mudança de ares que aquele momento impactante trouxe para o filme.

Enfim, o que não se pode negar é a importância que a direção tem nessa obra. Mesmo nos primeiros instantes de filme já é possível notar que a direção sabe como criar um ar fantástico, super-heróico. Os planos baixos, a movimentação lenta de câmera que estabelece os confrontos e até mesmo as poses dos personagens em cena são muito estilizadas para um filme de herói clássico. Isso me fez pensar como a direção conseguiu lidar com um roteiro frágil, que tinha suas principais competências nas sequências de ação e no desenvolvimento minimamente cativante do vilão, e nos carregou por um filme meio trôpego, com suspiros de empolgação nas sequências de ação, até um desenrolar final que empolga e até mesmo emociona.

O estilo e o sentimento que me vieram automaticamente a cabeça quando estava assistindo a esse filme foi o de Dragon Ball. Tudo aqui é condizente com o clássico anime japonês. Até a forma de nos emocionar é parecida. Impressionantemente, essa semelhança se estende até mesmo aos cenários em que a ação acontece. Cenários desérticos, longe da civilização e que não influenciam tanto diretamente na humanidade, para que o filme não tivesse que precisar lidar com o caos que isso causaria, são acertos que tornam a obra mais direta e mais simples, o que permite um foco maior no que realmente importa aqui, as sequências de luta. Mas isso vai além das questões estéticas. A própria relação entre os mocinhos e vilões também me lembrou muito a de Dragon Ball. Além, claro, do próprio estilo das lutas e das coreografias de cena. Os poderes, as cores, a movimentação. Sei lá. Tudo isso me soou bem familiar. E ressalto que isso não tornou a minha experiência ruim. Muito pelo contrário. Acredito que isso tenha sido um dos maiores motivos da minha empolgação. Isso, aliado a um diálogo muito bem desenvolvido que é capaz de colher os frutos do desenvolvimento não só do filme atual, mas como também do que a própria franquia já carrega, culminam num ápice sentimental louvável.

Em relação à franquia, acredito que essa tenha sido uma sequência acertada. Algo próximo do que vimos em “Venom 3 – A Última Rodada”. É uma obra que tem suas fragilidades claras, seus momentos mais bobinhos e repetitivos, mas que, ao fim, consegue se mostrar importante para o desenrolar do universo, mostrar sua importância na trama principal e não ser apenas um capítulo facilmente esquecível e insignificante daquele universo.

Finalmente, esse é um longa com duas metades bem distintas, para mim. Felizmente é a parte final que se destaca, em praticamente todos os sentidos. Para finalizar, é engraçado como a cena pós-créditos pode ser mais interessante e cativante do que boa parte do filme como um todo. Mas é interessante perceber isso porque há sim uma melhora em relação às obras anteriores. Se, a primeiro momento, ela estava fadada a ser mais uma trama simplória e mais do mesmo, voltando com a velha tese do mais e maior, aqui, entretanto, os realizadores souberam utilizar muito bem dos clichês e dos elementos fortes do material base para nos proporcionar uma experiência bem satisfatória, no final das contas.

Nota do autor:

Avaliação: 3.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalSonic the Hedgehog 3
Lançamento2024
País de OrigemEUA/Japão
DistribuidoraParamount Pictures
Duração1h50m
DireçãoJeff Fowler

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