Depois de um primeiro filme legal e um segundo desanimador, pelo menos para mim, Venom 3 traz um ar agradável para o universo do anti-herói do “miranha” – sem o “miranha” até agora. Acredito que, sem nenhuma pressão ou expectativas, o filme se saia muito bem em determinadas áreas e até consiga uma promissora melhora em determinadas características em relação ao seu antecessor e até mesmo em relação ao original, como discutirei mais a frente. No todo, ainda há coisas que me incomodaram aqui, mas como experiência cinematográfica, levando em consideração o seu gênero e o seu universo, foi um filme realmente bom de se assistir.
“Memorável” é uma palavra que eu com certeza não usaria para o segundo filme de Venom. Se ao menos o primeiro filme me traz algumas lembranças vagas, o segundo simplesmente desapareceu da minha memória. O que é até curioso já que eu assisti o segundo bem depois do primeiro e nunca reassisti o original novamente. Enfim, onde eu quero chegar com isso? Graças a essa “esquecibilidade” de “Venom 2 – Tempo de Carnificina”, o início de Venom 3 me gerou um certo desnorteamento porque eu simplesmente não sabia de onde a história tinha parado.
Dito isso, vamos ao que temos por aqui. Ed Brock está no México – do nada, pra mim – e não pode voltar para São Francisco porque está sendo procurado pela polícia. Logo, ele decide conhecer o outro lado dos EUA, partindo então para Nova Iorque. Porém, interessadas no seu poderoso simbionte, há duas forças que vão complicar muito o seu caminho. E uma delas, talvez, traga consequências de uma escala ainda maior do que se poderia imaginar e ainda mais desastrosas para muito além do que somente o nosso contestável herói de estimação possa lidar.
Como eu já ressaltei, acredito que houve sim um salto de qualidade do filme anterior para esse aqui. Essa pelo menos foi a minha experiência e acho que o meu relato explica muito bem o porquê disso. Assim, aqui eu realmente consegui me divertir mais. Seja por uma ação mais envolvente e, ironicamente, uma carnificina mais visível do que o seu filme antecessor, seja por cenas realmente memoráveis e com mais energia, vivacidade e adrenalina. Coisas que eu senti falta antes também. Acredito que após reassistirem as duas primeiras obras, os responsáveis por essa aqui conseguiram perceber que valeria mais a pena se aproximar mais do que houve no início da franquia. E acho que foi isso que tentaram fazer aqui. Dessa maneira, como um filme de ação, esse aqui consegue se sair bem.
Ademais, gostei também de como o filme soube lidar com o peso dos acontecimentos narrados. Por dois motivos mais específicos que vou detalhar. O primeiro diz respeito a como as mortes são sentidas aqui – e também vistas! Claro que os bandidos do prólogo ainda são tratados como meros manequins, mas quando se trata de uma morte mais impactante na trama, os personagens sentem aquilo de uma forma mais crível. Seja pelo Ed lamentar o que havia acontecido ou mesmo por um dos personagens realmente sentir aquela baixa. Isso traz um certo peso dramático para a trama, pois, por mais que a narrativa não dê tanta atenção assim, se um personagem dá, nós conseguimos notar aquilo e isso mexe com nossa empatia para nos conectar à história, não apenas assistir a uma luta vazia de espírito. Mas só ressaltando que isso também não é levado muito além da sugestão, já que ainda há sim mortes irrelevantes dramaticamente e que servem só para compor cenas. O que me fez lembrar disso aqui é que pelo menos há uma atenção dos realizadores em perceber que pessoas reais sentem as perdas à sua volta e isso melhora a nossa conexão com a obra, mesmo que, sendo um filme de ação, geralmente não se exige grande desenvolvimento dessa parte.
A segunda questão relacionada ao peso dos eventos aqui narrados que eu quero destacar é que, assumindo que os acontecimentos são realmente graves e catastróficos, o roteiro não foge disso e tenta minimizar as ameaças para uma resolução simplória. O peso do perigo se mantém do início ao fim na mesma intensidade. E quanto a isso também, acho que esse foi um bom diferencial para o longa. A ameaça realmente parece ser séria desde o início e não existem aquelas discordâncias idiotas quanto a periculosidade do problema. Tudo é assumido como grave desde o princípio e isso é mantido ao longo da trama. Além disso, isso é demonstrado de forma bem perceptível. Porque que bichos satanases são aqueles? É uma ferocidade que realmente impressiona e uma implacabilidade que nos faz sentir receio pelos personagens.
Agora vejamos bem as fragilidades dessa obra. Uma coisa que me deixou inquieto no filme foi como as escolhas são tomadas com uma facilidade impressionante. Simplesmente a primeira ideia que dá na telha se torna a escolha a ser seguida. O roteiro também deixa algumas perguntas sem respostas esporádicas, mas que dão pra passar, sendo um filme de franquia. O ponto em questão aqui é que quase nunca há um diálogo, parece que tudo é decido às pressas. Acredito que seja um artifício da direção para tornar o filme mais dinâmico. Direção essa, vale mencionar, que apresenta uns toques sutis de requinte justamente com essa dinâmica da obra e com algumas transições e sequências mais caprichadas.
Mas se tem uma coisa que me incomodou aqui foi como o roteiro trouxe suas facilitações sem qualquer receio. Como tem coisas milimetricamente orquestradas para o desenrolar da trama nesse longa. Eu não digo nem em relação ao arco principal. As motivações e os acontecimentos relevantes são até entendíveis e assimiláveis, mas como é possível haver tantos atalhos narrativos aqui? Para começar, a família hippie é até interessante e carismática para mim, mas sua introdução na trama foi muito jogada. Até aí, tudo bem. O segundo causo que me deixou inquieto é que as autoridades parecem reagir às ordens do roteiro e não as leis daquele universo. Elas são tão ágeis de vez em quando, mas em situações óbvias, não funcionam.
Mas se teve uma sequência que, para mim, poderia ser tirada totalmente do filme foi a que se passa em Las Vegas. Nada dali faz sentido para o decorrer da trama. Antes colocassem a família levando Ed direto para o seu destino final e no meio do caminho um perigo fizesse o Venom necessário, mas dançar? Dançar? Tudo bem, né. Talvez eu que não entenda a real importância da dança para a vida. É tudo tão fake que me fez perder um pouco da minha imersão – algo que é bem difícil. É aquele momento em que você percebe que aquilo é um filme pois não há sorte no mundo igual ao de um roteiro predeterminado. E aí eu tive que me reconcentrar para voltar aos trilhos do filme novamente. Mas aí você pode me questionar: “Mas óbvio que aquilo é um filme, Gabriel. Ou você acha que simbiontes e bestas alienígenas saem no pau todas as quintas?”. Mas essa é justamente a graça de imergir no filme. A suspensão da descrença inicial que toda obra cinematográfica nos cobra nos faz acreditar, sentir, ouvir, ver tudo aquilo que é obviamente mentira e mesmo assim nos emocionar. Essa é a graça e a mágica do cinema. Quando o filme demonstra para você que se trata de uma produção “falsa” – sem que esse seja seu propósito narrativo – isso acaba tornando a experiência mais pobre. Mas só reconhecendo que esse foi o meu caso particular e Venom 3, não é um filme pobre como um todo, apesar dos deslizes que mencionei.
Enfim, esse está longe de ser um filme perfeito, mas saiu com um saldo bem mais positivo para mim. Relevando certas fragilidades e artifícios baratos, é possível sim se divertir com essa trama e até se surpreender com certas escolhas. Sua dinâmica é envolvente o suficiente para não cansar e nem desanimar e suas sequências de ação são dignas de seu orçamento. Com tudo isso, a trama consegue desenvolver uma jornada envolvente para seu protagonista e se você for muito influenciável, até pode sair com um certo misto de emoções que vão além da adrenalina esperada.
Nota do autor:
Gabriel Santana

| Título Original | Venom: The Last Dance |
| Lançamento | 2024 |
| País de Origem | EUA/Reino Unido/Canadá |
| Distribuidora | Columbia Pictures |
| Duração | 1h50m |
| Direção | Kelly Marcel |
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