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Todo Tempo que Temos [Crítica]

Já fazia um bom tempo que eu não assistia um filmezinho como esse. Talvez por fazer um tempo que eu não assistia filmes em geral. Mas o que eu quero dizer com isso é que fazia um tempo que eu não assistia um filme sem saber o que esperar e nem ter ideia de para onde ele ia me levar. Posso dizer que, por mais que não apresente nada extremamente surpreendente ou extraordinário, essa obra ainda consegue ser tocante, a seu modo, e nos conquistar alguns suspiros de emoção durante sua duração.

Somos apresentados na trama a um casal que vive sua vida tranquila em uma casa no interior da Inglaterra – se não me engano. Suas vidas parecem muito felizes e a chegada de uma filha acende ainda mais o amor entre a família. Porém, um acontecimento trágico vai trazer para a esposa Almut um dilema complexo, quando ela precisa conciliar suas atenções entre sua carreira de cozinheira renomada e sua convivência familiar já prejudicada por esse tal problema. Tobias, seu marido, experiencia essa vivência entre altos e baixos e a cada nova revelação, por mais tranquilo e sereno que tente demonstrar ser, acaba sendo cada vez mais abalado pelos empecilhos da vida conjugal.

Para ser bem sincero, esse aqui poderia muito bem ser só mais um filminho de romance qualquer coisa, mas alguns pontos elevam o seu patamar e dão um ar, digamos, mais sofisticado a produção. O primeiro e mais evidente deles eu diria que é o seu elenco com nomes bem proeminentes na atualidade. O Homem-Aranha de segunda geração Andrew Garfield e a queridinha de Hollywood, que anda trabalhando em todo lugar ultimamente, Florence Pugh. Com um casal protagonista desses era de se esperar, ao menos, uma boa química entre os seus personagens. Diria que nessa parte o longa se sai bem.

Ademais, o segundo ponto que acrescenta algo a mais na experiência é a sua temática secundária, que está ali entrelaçada ao romance dos pombinhos. O tempo é o grande diferencial dessa obra, seja narrativamente, metaforicamente ou alegoricamente, mesmo que, a meu ver, poderia ainda servir como base para uma reflexão ainda mais profunda, mas que fica somente nas entrelinhas. O filme apresenta uma linha do tempo fragmentada e não linear. Isso para um espectador menos habituado, pode levar a uma certa confusão nos primeiros minutos. Digo isso pelo exemplo da minha mãe que assistiu ao filme comigo. No meu caso, apesar de levar alguns instantes para eu entender em que momento a narrativa estava nos jogando, não foi tão difícil identificar o pingue-pongue temporal que o longa fazia.

Mesmo sendo um dos diferenciais do filme, a fragmentação temporal e a narrativa não linear não me agradaram tanto de uma perspectiva geral. Acredito que os realizadores a usaram mais para dar um ar de sofisticação a narrativa, mas sem realmente dar conteúdo para esses movimentos narrativos. Chamei de “pingue-pongue temporal” porque realmente, em alguns momentos, parece que o filme só está nos jogando de um lado para o outro sem nenhuma intenção por trás, servindo apenas para adiar uma revelação importante para um momento mais adiante da sua duração. Mesmo assim, depois de algumas balançadas, o filme finalmente se equilibra e consegue se concentrar numa linha mais principal. O que mais me incomodou nisso tudo é que daria para dar uma explorada maior nesse contexto e nessa brincadeira com o tempo. O filme até insinua reflexões a respeito de como o tempo pode ser cruel, traiçoeiro e como é importante sabermos utilizá-lo pois ele não é igual para todos. Mas tudo isso fica só no num primeiro plano e não avança para reflexões mais profundas.

Apesar de toda essa estilização, ainda acho que esse filme não tenha uma trama surpreendente. Mesmo assim, a direção e o roteiro são hábeis para criar algumas cenas realmente tocantes. Elas estão lá espalhadas por toda a sua duração. Ajudam a não deixar o filme ser cansativo e também dão um toque de emoção para algumas sequências, mesmo o próprio filme nos revelando sempre o spoiler de como tudo aquilo vai terminar. Talvez seja por isso que eu posso ter desgostado dessa estilização um tanto quanto vazia. Ela nos dá respostas que nós poderíamos e descobrindo ao longa da trama, mas também não subverte expectativas que poderíamos criar com algumas pistas. Na verdade, é tudo bem previsível. Por um lado, é bom por nos chocarmos com algumas decisões finalmente mais drásticas do roteiro, por outro deixa algumas cenas meio vazias de conteúdo.

Eu acredito que acabei focando no que realmente é o que mais salta aos olhos na experiência com o filme, mas alguns outros aspectos podem ser ressaltados. Gostei da dinâmica do romance que, por mais que nada surpreendente, como citei, ainda assim aparenta ter um ar mais atualizado. Não sei bem se essa é a palavra. Além disso, a fotografia é realmente caprichada, o elenco está bem e dá a dinâmica necessária aos seus papéis, a meu ver, e a montagem tem certos acertos em transições e numa dinâmica que mesmo sendo um pouco caótica, de início, consegue deixar o filme, ao menos, energético do começo ao fim.

Mesmo sem nada de muito especial, acredito que esse seja um filme que consegue nos tocar minimamente e alcança o seu objetivo com facilidade. Tem uma trama fofinha e uma mensagem que, por mais que discreta, se bem recebida, pode trazer reflexões importantes para sua vida. Nem citei o fato de ter me emocionado com o filme, porque acho que tenha muito mais relação com minha vida particular do que realmente com os sentimentos que o filme conseguiu me despertar durante minha experiência com ele. Enfim, nem de longe foi um tempo perdido, mas com certeza havia muito mais que poderia ser explorado.

Nota do autor:

Avaliação: 3.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalWe Live in Time
Lançamento2024
País de OrigemFrança/Reino Unido
DistribuidoraStudioCanal
Duração1h48m
DireçãoJohn Crowley

Onde Assistir?
(aluguel)


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