Quando logo no início do filme apareceu um letreiro dizendo que esse filme era baseado no curta francês de 1962 La Jetée, o meu interesse instantaneamente aumentou. Como eu já havia me debruçado bastante na obra original para fazer uma prova para faculdade, a minha experiência em rever aquela história sendo contada agora numa versão em longa metragem me pareceu muito intrigante. E posso dizer que realmente a obra faz jus ao que eu poderia esperar de uma adaptação do fotofilme original.
Na trama temos um futuro distópico onde a humanidade foi arrasada por uma pandemia e praticamente foi destruída, tirando apenas um grupo que se refugiou no subterrâneo. Na tentativa de desfazer esse destino terrível, os cientistas dessa realidade futura inventam um jeito de enviar um viajante para o passado para tentar consertar aquela situação. O que eles não poderiam imaginar – ou até poderiam sim – é que viajar para o passado abriria um paradoxo que afetaria justamente no que causaria o desastre futuro.
Tramas com viagem no tempo são geralmente muito interessantes. Se não pela sua realização, ao menos pela premissa que surge com a obra. A ideia aqui é bastante simples, mas ao mesmo tempo complexa como sempre. Viajar para o passado sempre foi uma ideia bastante teorizada, mas que nunca foi apresentada uma conclusão concreta, até porque ainda não é nem de longe possível realizar tal feito hoje. Mas a questão simples é que sempre haverá um paradoxo na viagem para um tempo passado. Seja na mudança dos eventos futuros, como em “De Volta para o Futuro”, seja na possibilidade de criação de linhas do tempo, como as do universo Marvel. Sempre existe uma complexa relação entre os eventos de um futuro do pretérito.
Aqui acompanhamos uma trama que brinca bastante com essa ideia de viagem no tempo de uma forma até que bem sóbria, justamente como o curta de origem. Se lá, por um lado, a questão da ficção científica é levada para um caminho que busca gerar um ar mais reflexivo e filosófico, aqui há também esses efeitos, mas numa obra um pouco mais convencional. O filme adota uma pegada mais de filme de ação dramática, mesmo que o ambiente de sci-fi nunca deixe de permear sua duração. Isso aconteceu porque, diferente do filme original, a trama aqui se desenrola basicamente o tempo inteiro no passado, acompanhando o protagonista e a sua busca por solucionar os problemas que ainda estão por vir. Essa complexa relação ainda se torna mais curiosa pela sua falta de tato social, sendo ele um prisioneiro criado num futuro onde a sociedade entrou em colapso e que só foi escolhido apenas como cobaia para o experimento.
O personagem de Brad Pitt aqui é um ser bastante peculiar e que parece ganhar o seu próprio desenvolvimento a parte. Se quando surge na trama ele parece ser apenas um qualquer aleatório, logo percebemos que ele vai influenciar muito mais do que imaginaríamos – se bem que por ser quem é, já poderíamos imaginar algo assim antes. Mas os seus trejeitos e motivações são típicas de um psicopata cativante, clássico dos filmes de drama psicológico. A sua relação com o protagonista é interessante porque os dois parecem se refletir e repelir igualmente. Se um é mais contido e, à primeira vista, calmo, o outro é expansivo e alucinado. É por essas e outras que o filme deixa um ar de que tudo pode acontecer, mesmo que, sendo uma trama de viagem no tempo, teoricamente já sabemos como tudo isso acaba.
Voltando ao filme de origem, La Jetée, posso afirmar que temos aqui uma adaptação que me foi bem satisfatória. Sendo o primeiro um fotofilme, a história é transmitida bastante pela narração em off e as imagens são apenas ilustrativas e mais sentimentais do que propriamente descritivas. A descrição dos fatos, como eu disse, é por conta da narração. É uma maneira interessante de acompanharmos essa história. Já no filme mais recente, a trama se torna mais visual e adere a narrativa clássica. Isso traz efeitos curiosos para a história que eu já conhecia. Além disso, isso também me trouxe um questionamento. Como alguém que não conhecia a história experienciaria esse filme aqui? De qualquer maneira, existem diversos elementos que fazem alusão a obra clássica e que servem como uma espécie de homenagem a ela, mas que não a fazem necessária em si para a experiência.
É bastante interessante como, mesmo sabendo da história e até mesmo o próprio filme nos adiantando parte dela por meio da própria montagem, ainda assim a sua conclusão acaba sendo intrigante e curiosa. Acho que o mais importante aqui, mesmo que seja até gostosinho acompanhar a traminha que se dá entre os personagens, é o fato de o filme no colocar para pensar e refletir a respeito dessa possibilidade e dessas questões teóricas e até mesmo filosóficas a respeito da viagem no tempo e da própria finitude da humanidade. Pelo menos isso foi o que essas duas obras me fizeram pensar, cada uma a sua maneira, mas com efeitos bem parecidos. Se uma é mais lenta e contemplativa e a outra mais dinâmica e visual, ambas alcançam o mesmo patamar de reflexão no seu espectador. Foi o que aconteceu comigo, ao menos.
Posso dizer com toda certeza que essa foi uma bela surpresa para mim, pois eu não fazia ideia que havia uma adaptação recente do curta de 62 e nem que eu estava prestes a assisti-la quando dei play nesse filme. Por mais que a obra não seja nenhum clássico, até mesmo porque antes de assistir eu só havia ouvido falar de nome por alto, estamos diante de um filme intrigante e competente no que se pretende, seja na visita ao material de origem, seja na capacidade de construir uma narrativa própria em cima deste.
Nota do autor:
Gabriel Santana

| Título Original | Twelve Monkeys |
| Lançamento | 1995 |
| País de Origem | EUA |
| Distribuidora | Universal Pictures |
| Duração | 2h9m |
| Direção | Terry Gilliam |
Onde Assistir?
(aluguel)





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