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Aquarius [Crítica]

Drama intimista do diretor Kleber Mendonça Filho, Aquarius era um filme que eu já queria assistir há muito tempo. Já estava fazendo aniversário na minha lista, mas eu nunca havia dado uma chance para ele. Eis que na faculdade o professor resolveu passar o filme como conteúdo para uma atividade de análise e finalmente eu fui forçado a assistir. Não digo que fui forçado no sentido ruim, apenas que eu pude dar a chance que ele merecia. E posso dizer que eu perdi tempo por não ter visto antes.

Na trama acompanhamos a história de uma casa. Na verdade, a história de um apartamento e de uma senhora, dona Clara. Após conhecermos os antecedentes do local num flashback inicial, acompanhamos a jornada exaustiva de Clara contra a especulação imobiliária que pretende tomar dela a sua casa e apagar a sua história e possivelmente até sua vida. O que, à primeira vista, parece um drama contido e um caso simplório, esconde nas entrelinhas muito mais conteúdo acerca da realidade brasileira do que poderíamos imaginar.

Acredito que o grande triunfo de Aquarius seja a sua direção que consegue transformar uma história, teoricamente banal, em uma análise social de primeiríssima qualidade. Assim como também o faz com o desenvolvimento de personagem sublime da protagonista. Clara, assim como sua residência, vão ganhando contornos e formas próprias a cada detalhe, a cada cena. É possível notar o cuidado que cada minuto do filme ganha para formar a obra completa. Porém, é nessa parte também que habita o ponto que eu mais me afastei da obra. Entendo que a vida da dona Clara é cativante e interessante, mas muito do seu desenvolvimento dramático não me tocou tão profundamente. Boa parte do tempo eu estava apenas a observar o que haveria de ocorrer na vida da senhora. Coisa que não posso dizer o mesmo quando o desenvolvimento da história partia para o núcleo da casa. É até meio estranho dizer isso, mas eu senti mais apego pela casa do que pela protagonista, mesmo se tratando de uma atuação sublime da atriz. Mas as intrigas familiares, as motivações e os simbolismos atrelados ao local me tocaram mais.

Um outro ponto que me intriga um pouco negativamente é a primeira parte do filme. Não que a duração seja exatamente exagerada, mas a primeira parte de apresentação que se passa no passado não me cativou tanto assim quanto quando a obra pula para o presente. Mesmo que essa sequência tenha muito a dizer sobre a família, o lugar e as relações estabelecidas ali naquele ambiente, acho que tudo isso poderia ser deixado de forma mais sutil do que explicitar tudo de forma visual e prática. De qualquer forma, foi uma escolha e que tem suas motivações próprias. Só não foi algo que me engajou muito no filme. Isso me fez somente me apegar a obra no segundo ato, o que pode ser até um pouco tardio para uma boa experiência.

Mesmo assim, essa foi sim uma boa experiência para mim. Por mais que tenha demorado um pouco para eu me envolver e imergir na trama, acredito que depois que ela me fisgou, o arco central acabou me interessando bastante. E isso aliado às reviravoltas e aos segredos trazidos no roteiro, conduzidos com maestria pela direção de Kleber Mendonça Filho, fizeram dessa obra uma surpresa que deixou seu melhor sabor guardado para o final. Pelo menos, na minha experiência.

Esse é um filme que fala bastante sobre a realidade de Kleber Mendonça Filho e sua relação com a cidade de Recife. É também muito gostoso assistir a uma obra que se passa num ambiente tão próximo fisicamente ao meu. A identificação fica muito mais fácil e é até mesmo surpreendente quando podemos ter acesso a obras como essa. Não que não existam, mas sempre é complicado termos acesso no Brasil. Algo até bastante paradoxal. Enfim, temos uma obra que atinge diversas camadas da sociedade brasileira, tanto falando sobre as desigualdades de classe, geracional, regional, quanto indo até temas como especulação imobiliária, imposição social e ação do capital. São muitas palavras e muitos conceitos que, por incrível que parece, estão todos nessa obra. O que faz com que a sua duração não seja tão longa assim, porque temos aqui bastante conteúdo. Mas também o que me faz repensar certas escolhas que poderiam ter deixado mais tempo do filme para certas análises mais propícias e até mesmo um desenvolvimento mais ágil e dinâmico. Ou talvez eu só não seja tão fã dessa calmaria e contemplatividade da obra.

Talvez seja apenas uma implicância minha, até porque a parte dramática da obra, que carrega um aspecto mais intimista, talvez seja o mais tocante para algumas pessoas. Mas não nego que esse é um ótimo filme que tem muito a dizer sobre a realidade brasileira, que faz uma análise de personagem profunda e intimista e que tem uma realização cuidadosa, mas que apenas não me gerou um apego tão profundo assim. Reconheço novamente que essa é uma das obras mais interessantes da contemporaneidade fílmica brasileira e de grande importância para o cinema nacional.

Nota do autor:

Avaliação: 3.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalAquarius
Lançamento2016
País de OrigemBrasil/França
DistribuidoraGlobo Filmes
Duração2h26m
DireçãoKleber Mendonça Filho

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