Proveniente do movimento cinematográfico americano da Blaxploitation, Shaft tenta ser uma versão afro-americana dos suspenses de detetive clássicos. Por mais que esse movimento seja uma tentativa de captação do público negro americano para fins comerciais, foi um importante evento histórico no cinema que trouxe certo protagonismo negro para as telonas. Shaft como filme isolado é um suspense lento, burocrático, mas que tem seu charme e sua própria originalidade.
Acompanhamos o detetive John Shaft, que é apresentado com sua própria música tema. Música essa que nos apresenta o nosso herói. Ele é um icônico detetive marrento, vaidoso e muito bem conhecido na vizinhança, incluindo contatos na polícia e nas gangues. Numa certa ocasião, Shaft se vê no meio de um desses conflitos, quando um grupo de fora tenta tomar as rédeas da localidade em que Shaft convive. Isso vai trazer problemas graves e vai testar a força das relações que Shaft mantém com seus aliados.
Esse podemos dizer que talvez tenha se tornado um filme datado. Pelo menos a meu ver. Temos aqui um desenvolvimento lento e burocrático, como já mencionei, mas uma trama que é até intrigante. Por isso eu falo que a questão está na época. Sendo um filme de 1 hora e 40, não é bem a duração que o deixa longo, mas seu desenvolvimento que oscila bastante em dinamismo. Dou o exemplo da sequência final. Parecem horas de preparação para o ápice da ação. É muito mais tempo preparando do que realmente acontecendo. E acredito que isso valha para o filme inteiro. Mas voltarei nessa sequência mais tarde.
Temos aqui personagens cativantes e bem característicos de filmes policiais. Porém, o protagonismo negro dá um ar diferenciado, mesmo que a narrativa seja bastante convencional. Não só o protagonista é negro, mas a localidade também é majoritariamente de população preta. Isso é legal de se observar numa época em que poucos atores e atrizes negras recebiam qualquer papel, quem dirá um papel de destaque no cinema hegemônico hollywoodiano. Mas o carisma dos personagens vai além de sua identidade própria. Parece que todos aqui têm uma personalidade forte e carrancuda. Assim, é fácil ser cativado por eles.
Em relação à ação, o longa tem cenas bem elaboradas e bem executadas, mas como todo o filme apresenta certos momentos mais travados. Sendo um suspense investigativo, há momentos em que os diálogos ganham a cena. E aí temos um grande trunfo, a meu ver. Os diálogos são interessantes. Dou como exemplo a cena do bar em que Shaft se disfarça de bartender. Essa foi uma das sequências mais divertidas para mim.
Voltando à sequência final, temos uma boa dose de ação que deixa até um gostinho agradável no final da experiência. Posso dizer que quando o filme acaba, ele parece ter um ar satisfatório. Digo isso porque há toda uma preparação, um planejamento e uma criação de suspense para o desenrolar final dos fatos. Tudo isso é muito bem orquestrado e entrega cenas de ação bem conduzidas.
Enfim, Shaft tem sua própria energia marcante, mas que é muitas vezes testada pelo seu desenvolvimento mais arrastado e datado. Sua trama, no entanto, é cativante assim como são seus personagens. Para mim, boas cenas são intercaladas com outras bem lentas e pouco interessantes, mas quando a ação realmente toma a frente, o filme ainda pode ser sim apreciado nos dias de hoje. E isso não só por sua importância histórica no cinema negro, quanto pelo seu próprio valor individual.
Nota do autor:
Gabriel Santana

| Título Original | Shaft |
| Lançamento | 1971 |
| País de Origem | EUA |
| Distribuidora | MGM |
| Duração | 1h40m |
| Direção | Gordon Parks |
Onde Assistir?
(aluguel)







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