“Kung Fu Panda” é uma das minhas animações preferidas e toda a sua franquia traz um universo tão encantador que me fez amar suas sequências até seu terceiro filme. Agora no quarto, me vejo diante de uma obra que não chega ao patamar dos seus três antecessores, mas que ainda assim não me fez perder nem um pouco o apresso por esse universo fantástico. Perceber uma queda agora não é nada muito surpreendente, até porque a DreamWorks sabe fazer muito bem trilogias, a exemplo de “Como Treinar o Seu Dragão” e dos próprios três primeiros filmes de “Kung Fu Panda”, porém agora, nessa quarta obra, o estúdio não apresenta nada muito além do básico.
Na trama temos Po, o grande Dragão Guerreiro, agora precisando enfrentar o tempo e as mudanças que vêm com ele para sua jornada no Vale da Paz. Depois de dominar completamente a arte do Kung Fu, Po deve assumir seu destino e se tornar o Líder Espiritual como sucessor de Oogway enquanto precisa escolher seu substituto para a função de Dragão Guerreiro. Enquanto Po resiste a esse processo de transição, uma nova ameaça aparece, trazendo as lembranças dos velhos inimigos de volta ao campo de batalha.
Não sei se esse aqui é exatamente o melhor lugar para expor isso, mas sempre escrevo os meus textos para que eles sejam lidos posteriormente à sua própria experiência com o filme, assim como eu faço com todas as obras. Então eu sempre busco assistir ao filme sem saber nada de muito importante a respeito da trama ou qualquer detalhe mais comprometedor. Assim, aconselho você que faça o mesmo, pois, mesmo que não hajam lá grandes spoilers capazes de arruinar a sua experiência com o filme nesse texto, acredito que ter um primeiro contato puro com a obra dê a você uma melhor experiência do que quando já se está influenciado pelas interpretações alheias. Pontuo isso aqui justamente porque talvez minha experiência não seja muito bem racional, já que emocionalmente eu tenho um apego muito grande por essa franquia de filmes. Dito isto, sigamos nossa análise.
Enquanto estava assistindo em call com meu amigo eu repeti algumas vezes ironicamente: “nada previsível…”. Isso diante de vários pontos-chave da narrativa. Praticamente todas as viradas mais importantes são presumíveis e o enredo me lembrou muito ao de episódios da série “Lendas do Dragão Guerreiro” que eu assistia bastante na TV quando era mais novo. Num episódio para televisão, com duração mais curta e uma exigência criativa menor, acredito que o enredo daqui funcionaria perfeitamente, mas como uma sequência direta dos eventos antecessores e com uma importância tamanha para o universo, o que presenciamos aqui deixa a desejar quanto ao desenvolvimento dramático e ao arco dos personagens. A previsibilidade é um sintoma de um roteiro que se prende ao básico e tenta apenas surfar nos frutos colhidos anteriormente. Às vezes quase que literalmente.
Trazer o básico também não quer dizer necessariamente que não funcione. Existem diversos exemplos de filmes que só apresentam a mesma fórmula que já conhecemos, com umas peculiaridades aqui e outras ali e são capazes de funcionar muito bem. Exemplo recente é o filme “Elementos”, da Pixar. Não é nenhuma história inédita ou que já não vimos em outros lugares antes, mas consegue utilizar a “fórmula Pixar” e assim é capaz de emocionar, mesmo com uma historinha singela e básica, no geral. Mas voltando ao objeto de análise desse texto aqui. “Kung Fu Panda 4” também parece usar uma fórmula básica para o enredo, mas isso deixa toda a trama bem superficial. A fórmula parece que reutiliza algo do estilo de “Carros 3”. E se lá funcionou muito bem para mim, aqui já começou a me parecer um pouco batida.
A trama aqui é extremamente rasa e, como eu falei, reutiliza diversas fórmulas que já vimos em muitos outros lugares. O vilão que absorve os poderes dos outros vilões passados é só um sintoma do aspecto de “mais e maior” que as sequências adquirem. É uma pena não haver uma ideia original a exemplo do recente “Gato de Botas 2”, da própria DreamWorks. A vilã tem pouco carisma e o pouco que tentam atribuir a ela no final já não passa de algo, novamente, superficial. Porém, mesmo com isso tudo relacionado ao enredo, as sequências de perseguição ainda são frenéticas e divertidas; as lutas, mesmo sem muita emoção, ainda apresentam uma ação engraçada e grandiosa, principalmente na sequência final; e os cenários e a ambientação, assim como a animação em si, com ainda mais detalhes nas texturas dos personagens, continuam magníficas. Tecnicamente é um filme bastante correto e posso dizer que, ao menos para mim, ainda consegue ser bem divertido.
Parece que não tem como eu não gostar de filmes dessa franquia. Eu adoro esse universo e o jeito como ele foi cuidadosamente pensado e por mais que nesse filme mais recente eles só reutilizem tudo e usem uma fórmula bem básica, o carisma do Pô e a beleza do universo ficcional dessa animação já bastam para que minha experiência seja bem bacana. Pode parecer que nesse texto eu esteja num constante cabo de guerra entre criticar a mediocridade da obra e ressaltar seus poucos méritos gerais, mas foi assim que eu me senti na minha experiência com o filme. E já adianto que, no fim, a minha nostalgia, junto com os singelos acertos que encontramos aqui puxaram mais forte para alicerçar minha opinião.
Seguindo essa dinâmica do texto, uma coisa que me incomodou bastante e que eu senti muita falta foram os Cinco Furiosos. Se antes eles eram personagens centrais e figuras importantes para as tramas, além de entregarem carisma e atuações marcantes por parte dos intérpretes, aqui todos eles foram escanteados subitamente. Tenho que admitir que eu não sei exatamente porque eles não aparecem aqui, mas levando em consideração que os atores que faziam as vozes desses personagens eram figuras de peso em Hollywood, acredito que o cachê não estava alinhado às expectativas de lucro da DreamWorks com o filme. Sem eles, os personagens novos não são tão proeminentes assim, mas se encaixam com o universo e funcionam no quesito cômico, ao menos. A comédia ainda é parte muito importante para o longa e eu me vi rindo em muitas cenas, então acho que também funciona bem. Pelo menos, isso tudo para mim. Não sei exatamente se é pelo meu apego às obras anteriores, mas é muito bom ver qualquer coisa nesse universo com um pingo de cuidado com a produção, mesmo que, dessa vez – imagino eu – o roteiro tenha sido afetado por circunstâncias externas, como é o caso da readequação de elenco.
Outro ponto importante diz respeito aos aspectos mais filosóficos da história, algo que é uma marca da franquia, que aqui teve até essa característica atenuada. Os ensinamentos ainda estão lá. A narrativa sobre aceitar as mudanças necessárias da vida consegue transmitir certa mensagem interessante para os mais jovens, mas nada de tão alicerçador ou profundo. Os anteriores não traziam nada também exatamente complexo ou transcendental, mas eram mais bem correlacionados à narrativa e à trama de forma menos simplória. Exemplos temos vários e, como um bom fã da franquia, deixarei aqui um bem marcante para mim: “Sua história pode não ter tido um começo muito feliz, mas não é isso que define quem você é. É o restante da sua história. Quem você escolhe ser”.
Como eu já mencionei, tudo é bastante previsível, mas quanto a isso eu tenho algo a pontuar também. Sabe os clássicos desenhos do Pica-Pau ou mesmo Tom e Jerry? Os mais antigos mesmo. Então… Tudo neles era previsível e nós quase que conseguíamos narrar os próximos acontecimentos de cada situação. Assim como os causos de Chaves, por exemplo. Mas essa repetição e essa previsibilidade traziam uma coisinha especial. Não sei muito bem explicar porque, mas pra mim continuava sendo divertido mesmo sabendo o que ia acontecer. Além disso, quando finalmente alguma coisinha mínima te surpreende, parece que o efeito é bem maior. Não estou querendo simplesmente limpar a barra desse filme e defendê-lo afirmando ser uma obra do mesmo nível das três anteriores, mas como experiência fílmica, pelo menos para mim, essa aqui ainda consegue ser uma diversão bastante honesta para o que se podia esperar da franquia. Uma queda, sem dúvidas, mas ainda divertida.
Enfim, depois de ficar puxando a corda para um lado e para o outro, acredito que não tem como eu afirmar que não gostei desse filme. Minha experiência com a obra foi divertida, vê-la em call foi bem engraçado e todo o meu apego por esse universo ficcional só contribui para que eu não tenha sentido tão forte a queda de qualidade da franquia nesse quarto filme. De todo modo, espero que não continue caindo tanto nas obras seguintes. Não, ao menos, a ponto de eu sentir.
Nota do autor:
Gabriel Santana

| Título Original | Kung Fu Panda 4 |
| Lançamento | 2024 |
| País de Origem | EUA/China |
| Distribuidora | Universal Studios |
| Duração | 1h34m |
| Direção | Mike Mitchell, Stephanie Stine |
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