[GABRIEL] Mesmo já tendo feito mais algumas outras produções para o curso, esse aqui é o que eu considero o segundo filme que eu realizo, logo depois de Serena. Dessa vez, sem a limitação de tempo, as coisas para se preocupar foram outras. Essa aqui foi uma obra que eu criei junto com Gessica Lima para a matéria de Edição em Cinema e Vídeo, do nosso curso de Cinema e Audiovisual na UFS. De certa forma, creio que alcançamos o que nós tínhamos de intuito no começo do processo de criação do filme, mas algumas problemáticas que atrapalharam a produção vamos discutir logo na sequência desse texto. O filme estreou no dia 10 de abril, no penúltimo encontro da disciplina, juntamente com várias outras produções dos alunos do curso. O resultado final do nosso filme pode ser assistido abaixo.
De longe, a matéria que nós mais produzimos conteúdos nesse segundo período da faculdade foi a de Edição. Mesmo sendo um semestre atípico, dividido entre os anos de 2023 e 2024, com muitas surpresas durante as aulas e uma infraestrutura que passou por atualização durante o decorrer do período, os encontros em sala foram muito produtivos e a proposta de trabalho final foi apresentada desde o começo da disciplina: fazer uma vídeo-carta. Para fugir um pouco das convencionais cartas mais intimistas e pessoais, nós decidimos tentar fazer uma vídeo-carta ficcional de ameaça, mas que também trouxesse elementos de outros gêneros. A produção foi complicada devido ao tempo que nós tivemos para gravar e editar, mas principalmente para gravar. Como se tratava de um trabalho final da disciplina, nós começamos a planejá-lo ao mesmo tempo que estávamos ocupados com diversos outros projetos e trabalhos de outras matérias, sobrando pouco tempo para nos concentrarmos exclusivamente no trabalho de Edição. Entre uma aula e outra, decidimos começar a produzir o que dava: fotos, cenas e tudo mais. Foram, basicamente três dias para que tivéssemos todo o material bruto pronto para edição. Mas, com certeza, o tempo disponível que nós tivemos para as gravações foi insuficiente para corrigirmos alguns erros e também não nos possibilitou regravar algumas cenas e nem incluir cenas novas no filme. Ao menos, entretanto, conseguimos seguir até que bem o que o roteiro propunha e gravamos praticamente tudo que havia lá.
- Ideia e trama
[GABRIEL] Como já citado, nossa ideia era criar uma vídeo-carta ficcional que transmitisse uma ideia de ameaça. Com isso, nosso intuito era criar uma história crível e uma situação que pudesse ser facilmente indentificável com o público. Assim, utilizamos elementos bem presentes na realidade do dia a dia do ambiente em que frequentamos. Alusões a uma página do Instagram que posta conteúdos relacionados a universidade, cenas gravadas nos corredores e passarelas da UFS e dentro das próprias salas são exemplos de detalhes que utilizamos para criar essa ambientação mais familiar. A nossa proposta também aborda um pouco o efeito que o sentimento do amor e da paixão às vezes causa nas pessoas, ficando num limiar muito tênue entre o romântico e o obsessivo.
[GESSICA] O texto lido por Paula foi escrito salientando essa dualidade do romantismo que cruza entre a beleza de gestos exagerados e o incômodo de não saber quais os limites deles. Desde o primeiro momento definimos que o filme ia se tratar de uma carta de amor que também seria uma carta de ameaça, então foi até fácil idealizar a história. A maior dificuldade desse processo inicial foi se manter fiel à proposta do formato vídeo-carta. Por conta disso nosso primeiro storyboard não ficou muito claro, mas na segunda tentativa chegamos a um resultado satisfatório.
- Produção
[GABRIEL] A narrativa visual se mostra muito mais importante no decorrer do filme do que qualquer outra coisa. Isso é um ponto bem importante do curta pois nós queríamos passar nossa história apenas por ações e situações sem precisar de muita expositividade, mas também sem deixar o espectador desnorteado nesse percurso. Ao que tudo indica, a narrativa conseguiu ser bem compreendida pelo público, mas algumas sequências e a lógica de certas cenas não ficou 100%.
Foram necessários três dias para a produção completa do filme. Em um primeiro momento nós preparamos as fotos que seriam de grande importância para a narrativa. Depois de editar as imagens e prepará-las de acordo com que o roteiro exigia, nós partimos para as primeiras filmagens que se ateram às passagens mais importantes do ambiente da universidade. No último dia de filmagens nós precisávamos de uma casa para gravar as cenas internas, incluindo a sequência final. Com a ajuda de uma colega do curso que nos cedeu sua casa, nós conseguimos finalizar as gravações no terceiro dia de produção. Além disso, gravamos algumas cenas que faltaram na UFS.
Praticamente tudo correu como planejado no roteiro, mesmo que algumas coisas não ficaram exatamente como eu havia imaginado. O que me deixou bem feliz, no entanto, foi perceber que a cena final, que foi uma das que eu primeiro idealizei, ficou praticamente do jeito que eu tinha pensado.
Antes de passar para o próximo tópico preciso falar aqui sobre a nossa atuação no filme. Como não tínhamos muito tempo para produzir, decidimos nós mesmos interpretar os personagens do filme. Da minha parte (Gabriel), acredito que eu não seja um ator tão competente para assumir um papel mais relevante mas, no caso específico, ser um pouco amador e passar um ar de pessoa comum faz um certo sentido com o personagem que, na trama, seria apenas um carinha qualquer que começa a agir de uma forma bem estranha. Da parte de Gessica, acho que a única coisa que faltou foi um pouco mais de expressividade no decorrer da trama, pois parece que sua personagem não se sente nem um pouco aflita com o escalonamento da tensão, a não ser na sequência final.
[GESSICA] Para mim, a produção foi, com toda certeza, a parte mais complicada do processo. Como mencionado por Gabriel, as preparações e gravações foram feitas em um período de tempo curto enquanto tínhamos que nos preocupar com avaliações de outras matérias. Atuar também não é meu forte, e a gente desenvolveu mais a história em si que os personagens. Mas meu objetivo com a Paula era tentar manter a mesma dualidade da paixão. Se nas fotos ela quase sempre estava sozinha e parecia um pouco retraída, talvez fosse interessante deixar em aberto como ela se sentia sobre finalmente ser vista. Paula mantém o questionamento se “ST4LK3R” é realmente uma carta de ameaça ou uma carta de amor, ou se são as duas coisas ao mesmo tempo.
- Pós-produção
[GABRIEL] O processo de edição do curta durou cerca de 6 horas e meia. Eu sei disso com tamanha precisão porque eu gravei todo o processo em live para que pudesse retomá-lo posteriormente para relembrar num momento futuro. Como as cenas, em geral, não tinham uma sequência lógica específica, tentei seguir o que havíamos planejado no roteiro para manter uma coesão maior. Nesse sentido, não houve tantas dificuldades.
O que mais me ative foi, principalmente, no processo de mixagem e design de som. Queria transmitir o clima de tensão através da trilha sonora e por isso passei um bom tempo procurando músicas que se encaixassem às minhas necessidades. Após encontrar músicas que me agradassem, eu parti para a criação das cenas, paralelamente com a adição dessas músicas para manter a temática do thriller. Na sequência de decifração da carta criei algumas rimas visuais em consonância com a trilha durante o supercut para passar a ideia de um resumo do processo e assim privar o espectador do “longo tempo” de trabalho da personagem.
Claro que em algumas partes o áudio não se mostrou uniforme, principalmente no que diz respeito ao som ambiente, que eu gostaria de ter gravado com mais cautela, e também em relação aos nossos equipamentos de captação que não foram os mais profissionais – nossos celulares. Assim, algumas partes têm um ruído externo não proposital, mas que não estragou completamente a produção.
Para a sequência final eu já tinha minha ideia muito bem concebida no meu imaginário então eu só comecei a procurar formas de transformar aquilo em realidade. Foi então que eu comecei a pesquisar pelos áudios que me vinham a mente quando eu imaginava a cena na cabeça e eu tenho que dizer que eu consegui encontrar exatamente o que eu precisava. Assim, eu editei a parte final com recursos próprios e externos que busquei da internet, fazendo uma mistura que causasse o impacto que eu havia imaginado como momento-chave para a narrativa. O único ponto que me incomodou foi a minha voz ao final da cena que eu acho que estragou bastante o clima – não sou grande fã da minha voz. Mas, por outro lado, acredito que essa quebra de expectativas que a última fala do filme traz se encaixa perfeitamente com o que tínhamos imaginado para o curta.
Como desde o início abordamos essa dualidade do sentimento de amor/obsessão, a pegada cômica se mostrava como uma abordagem possível que nós introduzimos depois do choque da cena final para quebrar o clima e abrir ainda mais possibilidades de interpretação para o final aberto da narrativa.
[GESSICA] Para Álvaro de Campos:
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Então não poderíamos pensar em um final diferente para “ST4LK3R”. César é um criminoso mas ainda é um homem apaixonado, com tendência ao ridículo e movido pelo emocional. Se todo filme é carregado pela tensão de uma atmosfera de perseguição, a quebra de expectativa da cena final relembra a outra face do ato de se apaixonar.
[GABRIEL] Essa foi uma experiência muito legal e o resultado final, por mais que longe de perfeito, conseguiu ser bem satisfatório. Acredito que esse filme nos serviu bastante como aprendizado e produzi-lo nos deu bastante experiência prática para podermos aperfeiçoar nossas técnicas nas futuras criações.
Depois de duas obras de suspense como elemento principal, me sinto tentado a buscar outros gêneros nas minhas futuras produções. Vejamos o que vem por aí num futuro não tão distante.
Gabriel Santana
e
Gessica Lima

| Título Original | ST4LK3R |
| Lançamento | 2024 |
| País de Origem | Brasil |
| Duração | 6m10s |
| Direção e Roteiro | Gabriel Santana e Gessica Lima |




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