Filme francês do diretor François Truffaut, “Os Incompreendidos” traz uma história pessoal cativante que aborda relações familiares complicadas e que pode ser espelhada em diversos outros contextos reais. O longa que faz parte da Nova Onda francesa (Nouvelle Vague) não foge tanto da estrutura clássica padrão, mas apresenta certos “autoralismos” que marcam a sua grande importância para a vanguarda cinematográfica do período.
No filme conhecemos um jovem garoto que sofre com as rígidas regras de conduta da sua escola, enquanto desenvolve uma relação problemática também com seus pais, numa dinâmica desgastante para a família. Com apenas alguns poucos momentos de afeto genuíno, o pequeno protagonista é conduzido a viver a vida por si só, sempre procurando alternativas para fugir do sistema e criar o seu próprio mundo para realizar os seus sonhos.
A realidade francesa em que o protagonista está inserido liga-se principalmente à infância conturbada do diretor. A partir daí já podemos perceber os primeiros toques do influente movimento da Nouvelle Vague. Truffaut, sendo um dos principais expoentes dessa nova forma de cinema, apresenta sua autoralidade no caráter intimista, singelo e humano no desenvolver da personalidade do garoto e da própria narrativa que está estreitamente ligado ao pequeno jovem. Assim, foge das convencionais histórias do cinema clássico da época que se inspirava nos estereótipos americanos do cinema de Hollywood.
As ações e as problemáticas cotidianas, por mais que muitas delas sejam simples, conseguem nos guiar e nos manter imersos e entretidos por toda a duração do filme, demonstrando uma condução perspicaz e um grande mérito nos dias atuais no que diz respeito a como o filme envelheceu bem e ainda pode ser um drama desfrutável atualmente. Ainda em relação a esse desenvolvimento dramático, os acontecimentos narrados são muito críveis, possivelmente por refletir a realidade vivida por seu diretor na sua infância. As decisões cruciais da narrativa trazem consequências reais desde o início do filme e a cada evento novo que o garotinho se envolve tornam o título brasileiro mais entendível.
Por mais conturbadas que sejam algumas delas, o filme é baseado nas relações humanas e principalmente familiares. Dessa forma, é fácil se identificar e se sentir atingido por aquela realidade cênica. Com essa carga empática profunda, o filme se torna uma experiência ainda mais emocional do que racional, assim como muitas das decisões são tomadas com esse mesmo viés na narrativa.
Ressalto novamente a importância histórica desse filme como estreia de Truffaut na direção de um longa, já demonstrando seu grande conhecimento cinematográfico. Aproveitando esse espaço aqui, gostaria de expor a minha revisão de conceitos acerca da Nouvelle Vague que eu havia sido apresentado através do filme “Acossado”, de Jean-Luc Goddard, e não tinha me cativado como esse aqui – “Os Incompreendidos” – foi capaz. Mesmo não sendo um exemplar mais revolucionário do movimento francês, o filme traz uma trama humana e tocante que apresenta uma carga emotiva e empática que me fez olhar com outros olhos a Nouvelle Vague. Assim, pretendo me aventurar ainda mais nesse importante foco de ruptura entre o cinema clássico e o moderno bem em breve.
Nota do autor:
Gabriel Santana

| Título Original | Les quatre cents coups |
| Lançamento | 1959 |
| País de Origem | França |
| Distribuidora | Les Films du Carrosse |
| Duração | 1h39m |
| Direção | François Truffaut |
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