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Reflexões de um Liquidificador [Crítica]

Filme brasileiro de 2010, “Reflexões de um Liquidificador” apresenta uma trama simples, mas extremamente surreal. O desenrolar da história é previsível, mas mesmo assim nós permanecemos incrédulos até termos a certeza do que deduzimos facilmente no começo. No meio disso tudo, ainda somos bombardeados por reflexões filosóficas vindas de um utensílio doméstico. Interessante, não?

Para contextualizar a obra, vou expor aqui o ponto central da trama, já que até no título isso já fica claro. Ressalto que isso nem de longe estraga ou atrapalha a experiência, ou seja, não é um spoiler. Na história conhecemos uma dona de casa peculiar que desenvolve uma relação de amizade esquisita com o seu liquidificador. O objeto se personifica e se torna um personagem central da vida da senhora. Juntos, os dois se tornam cumplices de fofocas, discussões, conversas profundas e até mesmo outros acontecimentos mais pesados.

Essa é uma premissa bem interessante, mas que a meu ver teve um desenvolvimento simplório em alguns momentos. Isso ocorre porque vários pontos da história são previsíveis e não geram qualquer tipo de resultado dramático ou cômico no espectador. Pelo menos foi o que aconteceu comigo. Não quer dizer que a comédia do filme não funcione em certos momentos ou que nossa empatia não seja capaz de nos conectar de alguma maneira às ideias da protagonistas, mas o desenvolvimento e a conclusão não chegam a ser tão cativantes quanto a premissa inicial.

Acredito que esse desapego que há em relação a história se deve ao fato de que nós acompanhamos o desenrolar do passado influenciando o presente e não do presente para com o futuro. Isso, aliado ao fato de que, de certa forma, nós já sabemos bem o que aconteceu, faz as surpresas ficarem exclusivas à gravidade dos fatos expostos e não aos próprios fatos. No meio de tudo isto, ainda há espaço sim para a comédia e para boas discussões provenientes dos devaneios do liquidificador e de alguns poucos personagens secundários. Acho que o ponto mais interessante do filme é como esse espectador externo – o liquidificador – tão incomum observa e julga o ser humano, se colocando numa posição ainda mais íntima depois de presenciar o que a loucura é capaz de fazer com a mente de uma pessoa. Ou talvez ele próprio seja criação de uma mente alucinada.

O tom do filme reforça a ambiguidade dos acontecimentos em relação ao modo como a protagonista enxerga tudo aquilo. Até certo ponto eu me perguntei por que um tom tão leve e contrastante com os acontecimentos intensos que o filme expunha. Não faria sentido apenas pela comédia, já que o filme adota um viés bem realista neste sentido e, por outro lado, o drama que a história apresenta vem unicamente da perspectiva da senhora protagonista. Após alguns minutos pensando, durante o próprio filme, eu consegui entender o que estava tentando ser mostrado com aquela escolha tonal. A forma como o filme exibe a realidade reflete a forma como sua protagonista vê o mundo e assim essa obra se torna um mergulho profundo na loucura. Somos jogados e carregados por cenas cruas e impactantes, mas que aparecem de forma tão despretensiosa que isso acaba causando ainda mais impacto. Foi daí que eu comecei a entender um pouco mais do subtexto dessa obra.

Por fim, mesmo sendo um filme simples em muitos aspectos, deve-se exaltar a boa produção de arte e as realizações técnicas competentes. Porém, de longe, um dos grandes méritos do filme vem da discussão que parte dos questionamentos do liquidificador. Acredito que essa tenha sido a parte mais interessante, para mim. Suas ideias e sua forma de ver o mundo refletem bastante um pensamento de um humano em autoanálise, só que levando em consideração um corpo diferente. As metáforas que o objeto faz com sua origem, seu fim, a sua vida, o seu uso, suas peças e demais problemáticas interessantes acabam guardando boas reflexões do início ao fim do longa, como podemos aguardar já pelo título. Tudo isso me fez desconfiar ainda mais se aquele liquidificador não era apenas a personificação do resto de sanidade que a dona Elvira ainda dispunha em sua mente perturbada.

Enfim, essa não foi uma obra que me garantiu muita diversão ou que tenha me cativado cem por cento do tempo, mas também não posso dizer que ela foi enjoativa ou falha nas suas pretensões. Acredito que o que ela se propõe a abordar é alcançado minimamente e mesmo sem um desfecho surpreendente, podemos entender bem o funcionamento daquilo tudo. Assim, o filme pode ser uma bela surpresa para algum desavisado, mas também pode ser uma surpresa ingrata capaz de espantar uma outra gama de espectadores.

Nota do autor:

Avaliação: 3 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalReflexões de um Liquidificador
Lançamento2010
País de OrigemBrasil
DistribuidoraBrás Filmes
Duração1h20m
DireçãoAndré Klotzel

Onde Assistir?
(aluguel)


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