Grande sucesso da animação recente, destaque pela sua técnica de animação cartunesca, “Homem-Aranha no Aranhaverso” reescreve uma história reutilizada à exaustão pelas produtoras, mas que aqui conta de uma forma diferente a tão clássica trama do herói aracnídeo. O melhor de tudo é que o filme não é apenas uma nova versão, mas traz mais conteúdo para preencher sua duração, além de apresentar uma diversidade muito interessante de possibilidades a se explorar nesse universo.
Na trama conhecemos Miles Morales, um jovem garoto do Brooklin que acaba sendo picado por uma aranha radioativa e começa a sua história de se transformar no Homem-Aranha. Mas não é só isso que conhecemos sobre o rapaz. Miles tem um relacionamento meio desgastado com sua família que insiste para que ele estude em uma escola integral fora do Brooklin, o que acaba decepcionando o garoto. Mesmo levando a picada da aranha, no seu mundo havia outro Homem-Aranha e isso o deixa inquieto tentando entender o que está acontecendo, ainda mais pelo fato de o Homem-Aranha “verdadeiro” ter morrido em uma situação complicada e misteriosa. Assim, ele decide tomar seu lugar, mas nada é tão fácil. Pelo menos não até o encontro surpresa com outras versões de si mesmo, devido a um desequilíbrio multiversal.
A história clássica do Homem-Aranha ganha contornos únicos e diversos nessa nova reformulação. Mas isso nem de longe é o que mais me agrada nesse filme. Tantos outros elementos combinados são capazes de dar um charme muito especial para essa obra. Isso se evidencia na sua grande aceitação e recepção favorável por parte de todo o público. Além disso, o novo universo – ou multiverso – criado nessa animação é excepcional e guarda muito espaço para ser desenvolvido no futuro.
Acho que o que torna esse filme mais chamativo, à primeira vista, é sua animação característica. A utilização de elementos dos quadrinhos na versão animada da obra é muito bem-vinda e apresenta-nos diversos detalhes maravilhosos. Além de cartelas de título, onomatopeias e rabiscos que surgem com um barulho, por exemplo, toda a animação adota um traço de HQ e o universo se torna muito mais veloz e vivo. No começo eu até estranhei um pouco o tom bem alucinado do filme, mas logo isso foi relevado e tudo começou a me encantar ainda mais. O desenho moderno da obra ainda é capaz de fazer uma atualização – mais uma – desse personagem que há tanto tempo faz parte da cultura pop mundial.
Aliado a toda essa beleza, do apelo ao cartoon e da agilidade da animação, o que me impressionou também foi a capacidade da história pessoal do Miles ser tão cativante, mesmo não sendo nada exatamente original. A relação familiar que o garoto desenvolve com seus pais é coerente com as descobertas da adolescência junto com as descobertas dos poderes de aranha. Esse amadurecimento duplo dá uma mínima profundidade extra para uma história que poderia muito bem cair na vala da simplicidade. A trama de provação e descoberta é engajante do início ao fim e a dinâmica com as demais versões deixa o filme ainda mais interessante.
Além da mistura incrível de referências, as variantes agregam não só à comédia, mas também ao desenvolvimento dramático do herói. Todo o diálogo que o filme traz com o mundo real, que adaptou o herói criado por Steve Ditko e Stan Lee à exaustão, é bastante perspicaz e carrega uma metalinguagem bem pontuada e habilmente utilizada. A dinâmica de cada um dos “aranhas” com o Miles traz desde alívios cômicos até desenvolvimentos pessoais cruciais à trama. Toda essa liberdade de criação que os animadores tiveram ainda ajudou a apresentar um desenho único para trazer ainda mais variedade para a obra.
O desenvolvimento dramático familiar, a trama de provação e superação e as descobertas aparecem na medida certa, sem nenhum dos pontos se sobressair e ocultar os outros. Além disso tudo, os personagens são cativantes, o tom permanece leve e a comédia funciona muito bem durante toda a duração, utilizando sempre das peculiaridades que cada um dos heróis trazem. Por mais que a situação pareça e seja surreal, como todas as outras versões dessa história, o modo como o protagonista lida com a situação traz um ar de veracidade interessante e atual para o filme. Tudo isso deixa essa obra muito mais fascinante e envolvente.
Com uma recontagem criativa de uma história clássica, temos aqui um longa merecidamente premiado pela sua ousadia e realização excelentes. Todo o conjunto de características únicas e marcantes fizeram desse filme um pequeno clássico do cinema recente e que merece ser visto por qualquer um. Assim, é possível mostrar que uma mesma história pode sim ser recontada quantas vezes for necessário se os responsáveis tiverem boas ideias para renovar os clichês. Algo ocorreu na minha memória que esse filme tinha sido apagado, mas isso acabou sendo muito benéfico para minha nova experiência com ele.
Nota do autor:
Gabriel Santana

| Título Original | Spider-Man: Into the Spider-Verse |
| Lançamento | 2018 |
| País de Origem | EUA/Canadá |
| Distribuidora | Columbia Pictures |
| Duração | 1h57m |
| Direção | Bob Persichetti, Peter Ramsey, Rodney Rothman |
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