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Não! Não Olhe! [Crítica]

Fechando com a terceira obra de Jordan Peele, “Não! Não Olhe!” foi um filme que eu tive que ver duas vezes para poder analisá-lo. Dessa vez não foi pelo mesmo motivo que seu primeiro longa, “Corra!”. Naquela oportunidade eu decidi rever o filme porque eu queria prestar atenção nos vários detalhes que o filme esconde, mas dessa vez, com o filme mais recente, foi apenas porque minha primeira sessão foi bem ruim em relação a qualidade da reprodução. Voltando para as obras de Peele, achei seu primeiro filme primoroso, o segundo bem interessante e já esse terceiro um tanto quanto esquisito, mas sempre com muito espaço para discussão.

Na trama conhecemos um morador de um rancho de cavalos isolado no meio do nada que começa a presenciar eventos estranhos. Eventos esses que, inclusive, acabam causando a morte de seu pai. Não querendo abandonar o ramo profissional de atuação da sua família – como adestrador de cavalos para filmes – ele permanece na propriedade onde as coisas continuam sem explicação, porém todas as noites eventos cada vez mais assustadores continuam a ocorrer, primeiro com seus cavalos e depois com todos os demais presentes no local. Tentados pela descoberta de algo novo, ele e sua irmã decidem iniciar uma arriscada tentativa de capturar em vídeo o que seja lá que esteja causando os eventos bizarros na sua propriedade.

Sempre abordando temas sociais e com algumas críticas mais singelas ao preconceito e desigualdade racial, nesse filme Jordan Peele se debruça sobre outras temáticas críticas. A superexposição e a “sensacionalização” de assuntos sensíveis na mídia são os focos da discussão levantada aqui. Para tocar nesses temas, o diretor utiliza do suspense tradicional, mas numa vertente diferente, com um medo causado pelo mal desconhecido. Assim, o filme se apresenta como uma ficção científica de suspense e vai se desenvolvendo num ritmo meio inconstante. O filme dá pistas desde o começo sobre o que será abordado mais à frente, porém apenas no terceiro arco é que tudo fica mais explícito, em vários sentidos.

Temos aqui poucos personagens, mas todos têm características próprias bem importantes para a narrativa e desempenham papéis bem definidos. Por exemplo, o cineasta maluco que arrisca tudo para capturar em sua película o extraordinário e assim ter a chance de se sagrar ainda mais distinto, coisa que ele demonstra facilmente com suas ações e personalidade ímpares. Já o personagem de Daniel Kaluuya apresenta comportamentos completamente opostos ao de sua irmã e às vezes até parece meio lento em suas ações, mas no fim é ele que tem a iniciativa e é quem demonstra ter o maior conhecimento a respeito do perigo apenas pela sua personalidade observadora característica. Mesmo que esse não seja o foco principal, a química entre os personagens foi um atributo que me agradou bastante.

Em relação ao foco temático da narrativa temos uma crítica pertinente ao universo dos meios de comunicação que se utilizam de meios antiéticos para surfarem no prestígio da audiência e da atração exagerada. Com uma relação direta com o funcionamento/comportamento do ser “observador”, ou melhor “espectador”, que há no universo do filme. Essa relação é interessante e é também o elemento motor do suspense e da tensão que o filme carrega, mesmo que quase nada “aconteça” de fato em boa parte do filme. Esses elementos do sci-fi me agradaram bastante e ajudaram a me manter preso ao filme. Utilizando ainda de uma metalinguagem inteligente, o filme é capaz de tocar em questões delicadas da indústria na qual está inserido.

Mesmo com os pontos positivos, achei que o filme se estende demais num desenvolvimento lento e destoante. Não que isso seja necessariamente um problema, mas alguns pontos não me foram tão palatáveis como nos seus filmes anteriores. Depois de assistir por duas vezes, acredito que muita coisa da duração do filme poderia ser melhor desenvolvida. Nas duas experiências que tive achei que algumas partes foram bem monótonas e questionáveis. Por outro lado, o terceiro ato me agrada bastante, mas até chegar nesse ponto o filme se alonga numa criação de atmosfera que acabou não gerando tanto resultado comigo. Talvez por isso, minha experiência não foi tão satisfatória como nos filmes anteriores que tinham as coisas mais claras e os quais eu também tive uma conexão bem mais fácil. Ter esses outros dois filmes como base de comparação direta podem atrapalhar a assistida, mas é bem difícil não ser influenciado por essas obras, ainda mais pelos seus ótimos resultados comigo.

Enfim, esse é um filme diferente e que tem seus próprios méritos, mas, de longe, foi o que mais me estranhou e não conseguiu, mesmo assim, ser o que mais me inquietou, como um bom suspense ou terror. Acho que também por isso minha experiência foi tão peculiar. Geralmente eu me envolvo muito com filmes, mas esse aqui não me causou quase que nenhuma emoção e eu permaneci bem apático durante toda a duração com alguns momentos específicos de estranheza, mas só isso. Mesmo assim, por seus diferenciais, ainda acredito que essa seja uma obra interessante o suficiente para valer uma assistida. Talvez não duas.

Nota do autor:

Avaliação: 3 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalNope
Lançamento2022
País de OrigemCanadá/Japão/EUA
DistribuidoraUniversal Studios
Duração2h10m
DireçãoJordan Peele

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