Filme original da Amazon, “Caixa Preta” reúne várias referências claras a outras obras, mas que juntas conseguem se provar como um bom suspense que consegue desenvolver bem sua independência e se manter interessante como filme solo. Mesmo não sendo tão disruptivo, o filme apresenta ideias realmente plausíveis, mesmo que alguns personagens sejam difíceis de engolir como possíveis pessoas reais.
Um carinha que sofreu um acidente recentemente e acabou perdendo sua esposa precisa lidar com problemas de amnésia constantes enquanto cuida de sua filhinha. Incomodado com o curso da sua vida ele procura uma médica que insiste em oferecer a ele um tratamento experimental de autoria própria que acaba o proporcionando experiências bem perturbadoras. Para tentar recuperar as memórias do paciente, a médica utiliza uma nova tecnologia que funciona como uma espécie de jogo em realidade virtual super imersivo e que se liga ao subconsciente do “jogador” e nós, paralelamente, do outro lado da tela, nos deparamos com uma realidade onde nem todos são quem de fato parecem ser.
Indo direto ao ponto, o que mais me cativou nesse filme foi o contexto de sci-fi que o longa apresentou. Tanto por ser algo realístico e que pode realmente acontecer num futuro não tão distante, quanto por fazer sentido internamente no desenrolar da trama do filme. Esse sci-fi engajante, porém, não foi de todo original, apresentando referências claras a outras produções. Uma cena em específico me fez lembrar muito de “Corra!”, recente clássico de Jordan Peele. Já outros conceitos podem ser referências de outras obras da cultura pop em geral. Entretanto, essa mistura não se mostrou indigesta, mas, ao contrário, conseguiu me prender desde o começo, com a tecnologia interessante abordada, e principalmente depois do ponto de virada do filme, com as descobertas provenientes do plot twist do roteiro. Para mim, foi uma combinação de referências bem executada, no todo.
O filme pode se apresentar como terror, mas, na maioria das vezes, é simplesmente um suspense com alguns elementos específicos de terror bem dispersos. Nada me pareceu tão assustador assim, no final das contas. Mesmo assim, o clima e o tom de algumas sequências nos deixam tensos e ansiosos imaginando possibilidades assustadoras para o desenrolar dessas cenas. Principalmente em relação a filha do protagonista.
Mesmo apresentando alguns personagens bem superficiais, acredito que o que também sustentou um pouco o drama do filme foi a relação cuidadosamente desenvolvida entre o pai e sua filha, que foi a única pessoa pela qual eu senti algum receio em relação a sua segurança, como já destaquei. Todo o peso dramático que o filme pode apresentar durante sua duração se dá em decorrência disso e eu fico feliz de perceber que alguns detalhes e pequenos gestos não foram de todo modo gratuitos, num segundo momento se mostrando facilmente compreensíveis. Por outro lado, alguns outros personagens são bem unidimensionais e só fazem sentido numa história ficcional. Suas personalidades tão bem definidas como a de um “vilão implacável” servem apenas para que nós desenvolvamos uma antipatia instantânea por eles. Assim, a história tem suas bases em alguns elementos clichês, mas mesmo com isso, acho que ainda são aceitáveis num contexto mais geral.
No final das contas, o filme consegue se bastar pelas suas boas ideias que se sobressaem aos pontos negativos do longa. Na verdade, nada derruba tanto assim a história, mas alguns elementos são apenas convencionais e não se destacam tanto quanto os demais. Na média final desta obra, essa pode ser uma boa surpresa, mesmo que, ironicamente, em certos momentos ela se torne até bastante previsível.
Nota do autor:
Gabriel Santana

| Título Original | Black Box |
| Lançamento | 2020 |
| País de Origem | EUA |
| Distribuidora | Amazon Studios |
| Duração | 1h40m |
| Direção | Emmanuel Osei-Kuffour |
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