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Estrelas Além do Tempo [Crítica]

Filmes baseados em fatos reais são praticamente o único tipo de filme que minha mãe gosta e por isso eu sempre me lembro dela quando eu encontro um filme desses. “Estrelas Além do Tempo” é um exemplar dessa categoria e apresenta uma trama bem interessante sobre um dos momentos mais retratados da história da humanidade, mas por uma ótica um pouco diferentes e muitas vezes esquecida.

A história da computação, por mais importante que ela nos seja hoje, é bastante recente. Antes da ascensão dos computadores eletrônicos, quem fazia essa tarefa árdua de calcular milhares de números por segundo eram os cérebros humanos e principalmente o de mulheres. Isso não foi diferente nos primórdios da exploração espacial quando a NASA utilizava as computadoras para realizar seus cálculos que precisavam ser os mais precisos para os lançamentos de foguetes na então corrida espacial. Aqui nesse filme conhecemos uma história tocante de um trio de mulheres que, além de sofrerem o menosprezo da sociedade machista de sua época, ainda sofreram com a segregação por serem negras numa época vergonhosa da história americana. Algo tão contrastante com os avanços revolucionários alcançados no período e com a própria contribuição histórica que essas mulheres tiveram.

O filme funciona muito bem como uma biografia, mas apresenta algumas peculiaridades importantes. Como existem três pontos centrais de protagonismo, a história não se prende numa linha narrativa que reconta muito do passado de cada moça, mesmo tendo sim uma figura principal. Além dessa divisão de interesses, o filme apresenta um recorte bem definido da vida de cada uma delas e, para uma biografia, reconta apenas um relativamente curto espaço de tempo. Outro ponto que me fez estranhar o fato de ser uma biografia foi que o tom adotado não foi tão dramático quanto é de praxe nesse tipo de filme. A trama se mantém leve mesmo abordando temas sérios e importantes à discussão. Porém, tudo isso não muda o fato de o filme expor uma passagem importante da história da humanidade sendo um bom retrato histórico sim. E, com isso, utiliza uma ótica pertinente para expor a perspectiva geralmente oculta e minimizada da história popularmente tão reconhecida.

Mesmo dividindo a narrativa em três pontos de vista, a trama apresenta uma unidade de perspectiva quanto a população negra, sempre ressaltando o contexto de segregação que afastava do convívio negros e brancos na sociedade americana. Ainda assim, somos capazes de entender a importância que os negros tinham para a sociedade, como é exemplificado numa salinha nos fundos das instalações da NASA onde mulheres passavam o dia realizando as mais complexas operações de cálculo mesmo que nos relatórios seus nomes nunca tenham aparecido. Essa perspectiva histórica muito me agrada e sempre me interesso por filmes assim. Além do mais que a forma adotada é bem simples e funcional, apresentando uma boa trama de provação e desafios que cada uma das protagonistas teve que passar para alcançar seus postos de figuras lembradas na história e dignas de um filme que reconte sua trajetória. Cada uma tem seu desenvolvimento próprio mesmo que esse não seja tão profundo, mas nos pequenos detalhes o filme nos comunica o contexto problemático que todos os negros enfrentavam naquele tempo.

Por mais que o filme seja bem simplório na sua forma, o conteúdo suporta tal escolha e consegue nos carregar sem muito esforço por toda sua duração. Com um contexto histórico bastante conhecido, o interesse fica nos desafios pessoais enfrentados por aquelas pessoas e como isso realmente pode ter acontecido numa época de avanço tecnológico tão contemporâneo àquilo. A contrariedade é assustadora e carrega a história do início ao fim. É notória a imposição de barreiras que a sociedade do período apresentava aos negros e como cada uma daquelas mulheres tiveram que realizar feitos extraordinários apenas para conseguirem uma relativa igualdade de direitos. Mesmo sem uma abordagem mais assídua nos problemas gerais, os pequenos detalhes bem colocados no filme e a vitória pessoal de cada uma das protagonistas expõe uma mensagem importante e que ainda precisa ser lembrada atualmente, de que todos temos que ter o mesmo tratamento, as mesmas oportunidades e a mesma possibilidade de sonhar, simplesmente porque todos nós somos humanos independente de qualquer coisa que uma sociedade retrógrada possa afirmar.

Enfim, o filme não é uma obra com uma profundidade tão grande, nem com um intuito de ser. A meu ver, esse filme alcança seu sucesso na simplicidade de apresentar uma boa história, personagens cativantes e retratar uma fase já tão conhecida do ponto de vista tão desconhecido e tão apagado nas páginas dos livros didáticos. Foi uma experiência bem satisfatória e bem coesa, mesmo a obra não tendo nenhum mérito narrativo tão considerável. Às vezes o simples é tão bem utilizado que funciona com mais força do que o extraordinário, assim como as computadoras que foram indispensáveis mesmo com a chegada das novas tecnologias na corrida espacial.

Nota do autor:

Avaliação: 3.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalHidden Figures
Lançamento2016
País de OrigemEUA
Distribuidora20th Century Studios
Duração2h7m
DireçãoTheodore Melfi

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