Terror argentino de um diretor proeminente no gênero, “Cuando Acecha la Maldad” – título original da obra – é sua mais recente produção que conta com características bem marcantes e uma ambientação que me agradou e prendeu bastante. Produção peculiar que foge de alguns padrões clássicos da indústria hegemônica americana, esse terror latino expõe um grotesco horror visceral que surpreende pela sua realização perspicaz.
A história acompanha dois irmãos, moradores de uma localidade pacata e distante do interior da Argentina, que se deparam com acontecimentos atormentadores nos arredores de suas terras. Um terrível mal, referenciado apenas em antigas lendas, surge e se espalha rapidamente assim como uma epidemia e a entidade maligna começa uma cruel perseguição. Assombrados, os irmãos tentam fugir, mas a falta de conhecimento deles a respeito do perigo atrapalha suas tentativas de se livrar da ameaça.
Esse não é um terror convencional. Pelo menos, foi o que me pareceu. Não que eu tenha grande conhecimento a respeito do gênero, mas essa obra com certeza foge das premissas mais clássicas e banais amplamente exploradas pela maioria dos realizadores. A ambientação me deixou muito satisfeito, com um clima de tensão que surge logo nos primeiros instantes do filme e só vai aumentando a partir do momento que nós vamos descobrindo mais e mais a respeito do perigo. Esse é, com certeza, um filme que não alivia na hora de chocar o espectador. Ironicamente, esse filme não me deu tanto medo em si, mas me propiciou um sentimento contínuo de tensão e perturbação com os elementos do horror em cena.
Um ponto que se destaca nesse filme me parece ser em relação ao seu protagonismo. A meu ver, os personagens, por mais que carreguem a narrativa e tenham o maior tempo de tela, não agem como protagonistas convencionais. Diante disso, o protagonismo é da entidade sobrenatural que vai cada vez mais se mostrando e se expondo para controlar os acontecimentos a seu modo. E posso dizer que consegue. Por mais desesperadas que sejam as tentativas de se livrar do mal, como o próprio título deixa claro, ele está sempre a espreita e no menor dos equívocos ele surge para atormentar a todos que surjam pelo caminho. Os seres humanos aqui parecem não ter qualquer chance, a não ser pela introdução de uma mitologia própria em certo ponto da trama, e isso gera uma sensação ainda mais desesperadora.
Em relação a essa mitologia do filme, por mais que alguns elementos sejam um pouco batidos, outros agregam bastante ao desenvolvimento do terror e isso funciona de maneira sugestiva e explicita de forma complementar. A narrativa toca por um lado no tema religioso e por outro nas relações familiares conturbadas de um dos irmãos para dar um desenvolvimento psicológico maior aos personagens, mas não de graça. Esse desenrolar agrega ainda na conclusão da trama e acrescenta pontos chaves para justificar as ações dos protagonistas. A mitologia macabra esconde ainda espaço para escolhas narrativas marcantes e perturbadoras.
Perturbador assim como muitas cenas desde o começo do filme. Como eu já afirmei antes, esse filme não me assustou em si, mas os acontecimentos grotescos criam uma experiência de terror interessante que choca constantemente mesmo depois de assumirmos que tudo pode acontecer. Às vezes a direção não precisa nem mostrar nada, apenas sugerir, para ficarmos boquiabertos com o que intuitivamente percebemos dos ocorridos. Além disso, outros simbolismos que o filme apresenta são deixados pelo caminho para quem, diferente de mim, tenha conseguido desafixar os olhos do horror e prestado mais atenção a essas nuances subliminares.
Assim, acho que essa é uma experiência de terror bastante interessante e não convencional que nos convida para uma viagem sádica em uma queda vertiginosa num universo bizarro e muito bem ambientado por uma direção capaz de criar tensão e inquietação dos mínimos detalhes aos maiores alardes. Minha honesta experiência com esse filme é ambígua por ele ter conseguido me chocar e me interessar, mas não realmente me amedrontar ou aterrorizar. De qualquer forma, pelos seus diferenciais mereceu minha ovação.
Nota do autor:
Gabriel Santana

| Título Original | Cuando acecha la maldad |
| Lançamento | 2023 |
| País de Origem | Argentina/EUA |
| Distribuidora | Shudder |
| Duração | 1h39m |
| Direção | Demián Rugna |
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