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Shiva Baby [Crítica]

Filme da estreante em longas Emma Seligman, Shiva Baby é uma experiência intrigante não só pela história curiosa, mas, principalmente, pela forma como nos é transmitida. O filme é excelente em causar diferentes e contrastantes emoções e questionamentos a todo momento num turbilhão de informações que é capaz deixar qualquer um desnorteado, até mesmo seus personagens em tela.

Todas as informações da trama são deixadas ao espectador já durante o desenvolvimento, sem que haja qualquer momento de apresentação propriamente dito. Acredito que os dois primeiros atos de uma narrativa clássica, nesse filme, foram fundidos em um só. Na verdade, se pararmos pra analisar direitinho, a narrativa não se estrutura com atos e sim de maneira extremamente causal. Tudo isso acontecendo de maneira simultânea. Não há pontos de virada claros, – a não ser o primeiro que dá início ao conflito – mas, a meu ver, cada diálogo escondia uma nova informação que interferia no decorrer da trama.

Falando em trama, conhecemos Danielle, uma jovem que se relaciona com um desconhecido por dinheiro, mas acaba descobrindo em uma ocasião inusitada que o mundo é menor do que ela imagina. Na tal ocasião pontos do seu passado e do seu presente surgem para importunar sua mente numa escala crescente de desespero.
Essa é uma experiência em todos os sentidos acelerada. Seja pela curta duração do projeto, seja pela sua direção que se utiliza dessa pressa pra expor uma história intricada.

Tudo contribui para um sentimento de ansiedade constante no espectador. A todo momento, principalmente na segunda metade do filme, parece que alguma coisa está sempre prestes a explodir. Isso ainda é potencializado por uma trilha sonora que utiliza de ruídos do ambiente e também de fora para acentuar uma aflição permanente. A direção é hábil em transmitir essa sensação de desconforto da protagonista para o espectador que não vê a hora de ver uma clássica resolução para os problemas. É aí que a perspicácia da realizadora se mostra mais evidente, deixando pistas para que possamos nos prender, mas sempre apresentado algo inesperado para potencializar ainda mais a inquietude da nossa parte, fora da tela.

Utilizando essa linguagem de subversão de expectativas, há uma boa discussão sendo deixada sem muito alarde em cena. Nos diálogos rápidos, mas maliciosos; nos detalhes que se relacionam com a situação da protagonista; na gradação surpreendente de fatos coincidentes. Tudo isso traz mensagens que até podem parecer ocultas, a princípio, mas se desenrolam como o elemento motor da trama e abordam temas relevantes. A pressão sob a protagonista a respeito da sua sexualidade, corpo e escolhas de vida apresentam uma realidade comum em diversos contextos que podem muito bem traduzir um problema comum a diversos países, religiões e ideologias. E é ainda mais interessante perceber como, através do incômodo, o longa nos faz perceber como é experienciar a vida de outra pessoa e se sentir amassado contra a parede por discussões, muitas vezes, inúteis.

Assistindo esse filme, acredito que é possível perceber ainda mais como o cinema é capaz de nos fazer enxergar pelos olhos dos outros e essa pode ser uma experiência totalmente transformadora para quem é atingido pela mensagem. De todo modo, é preciso saber imergir e se provar aberto a novas experiências para que o cinema seja sempre utilizado de maneira criativa e relevante não só direcionado a um público específico, mas podendo atingir qualquer sincero entusiasta da arte.

Nota do autor:

Avaliação: 3.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalShiva Baby
Lançamento2020
País de OrigemEUA
DistribuidoraMUBI
Duração1h17m
DireçãoEmma Seligman

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