Peões [Crítica]

Peões é a quinta obra de Eduardo Coutinho que eu assisto e posso afirmar que é a que mais se aproxima de suas características mais marcantes. Esse retrato histórico das greves do ABC paulista em meados da década de 80 no Brasil traz, através das memórias de pessoas anônimas, o retrato de um grande líder que surgia no país.

A abordagem mais próxima da direção da obra na realização do projeto, deixando claro que se trata de uma obra documental, através da exposição dos contextos de produção e pesquisa dos personagens é marca registrada do diretor. Além disso, acho que a dualidade entre os contextos contemporâneos a produção da obra em correlação ao contexto que está sendo relembrado pelos personagens entrevistados ajuda a acompanhar o desenrolar dos acontecimentos que foram mais marcantes para cada um deles servindo ainda, juntos, como um retrato histórico muito importante para sua época.

A história contada é a dos movimentos grevistas que alçaram Lula, então líder sindical, como uma das figuras históricas e políticas mais importantes do seu tempo. Através do depoimento de pessoas até então anônimas que conviveram com Lula ou apenas participaram das greves e movimentos sindicais do período, temos acesso a histórias pessoais e íntimas que estão totalmente relacionadas ao contexto histórico abordado. Tudo isso fica claro ainda mais com a participação de Coutinho na condução da obra, mesmo que em sua maior parte apenas com sua voz atrás das câmeras. Mesmo assim, esse trabalho de reunir todos os depoimentos em uma montagem que progride através das memórias das pessoas é mais uma de suas características.

Os relatos de pessoas ligadas aos movimentos grevistas da época são alternadas com cenas de produções que também retratam a caminhada do período. Assim, é possível se aproximar dos acontecimentos com a narração dos seus integrantes e ainda ficarmos cientes de como isso influenciou a vida daquelas pessoas através dos anos seguintes. Essa dinâmica ajudou a criar uma perspectiva mais intimista com os personagens apresentados e ajuda ainda a alicerçar a história de base da figura central da narrativa. Com as eleições de 2002 próximas a produção, todo esse contexto histórico consegue ainda servir para deixar claro a jornada que Lula passou para se tornar o presidente do Brasil.

No final das contas, essa é uma obra bastante interessante que não se prende apenas a história geral, mas é contada através de personagens anônimos importantes, mas que são muitas vezes esquecidos, que ajudam a dar o peso necessário de tornar aqueles acontecimentos mais palpáveis pois somos capazes de ver as consequências de seus desdobramentos na realidade do país no período e na vida de cada um deles. Assim, o filme é marcante e tem uma perspicácia ótima em nos conectar com os movimentos responsáveis por ajudar a alterar os rumos da história do nosso país.

Nota do autor: