Esse é um dos filmes de Eduardo Coutinho que tem um formato diferente da maioria de suas obras. Até por isso, foi considerado por ele mesmo como uma produção menor. Mesmo assim, tem boas passagens a serem observadas sobre a cultura nordestina e seus costumes que perduram durante os anos até os dias atuais.
Achei interessante a premissa da história de acompanhar os romeiros de Fernandes (povoado no interior de Alagoas) que viajam em direção a Juazeiro do Norte, no Ceará pois morei muitos anos em Alagoas e na cidade em que morei, inclusive, essa romaria acontece todos os anos, com várias pessoas se dirigindo para a cidade de Juazeiro para pedir as bençãos ao Padre Cícero. Esse retrato sagrado que os nordestinos têm em relação ao Padre fica explicitado na obra de Coutinho ainda mais quando o padrinho dos sertanejos é igualado a Jesus Cristo por alguns beatos.
A estrutura do documentário foge bastante do formato adotado por Coutinho em suas obras mais famosas, tendo uma condução bem mais discreta, com um narrador que vai detalhando a histórias enquanto as cenas vão sendo acompanhadas “a certa distância” pela câmera. Essa distância se dá pela pouca ou nenhuma interação do cineasta com o que está sendo filmado. E, diferente de outras obras do autor, as individualidades dos personagens acompanhados na história não é explorada para dar lugar a um contexto mais geral que unifica todos os protagonistas em uma única massa de romeiros devotos do Padre Cícero.
Por mais que não tenha o charme característico de Coutinho, essa obra apresenta um bom retrato da romaria realizada religiosamente por diversas pessoas por todos os estados do Nordeste ano após ano, retratando ainda uma data importante para os romeiros, o centenário do nascimento de Padre Cícero. Assim, podemos ver as condições, muitas vezes, precárias de transporte, dormida e alimentação que essas pessoas passam em nome da penitência e da fé não só em Cristo, mas também no santo do povo. Algumas poucas imagens da época com o padre ainda vivo e algumas passagens de filmes dão uma contextualizada na explicação e se alternam com as etapas do ritual de passagem dos romeiros pela cidade de Juazeiro. A câmera acompanha muito mais tímida do que o habitual e mantém um ar jornalístico de reportagem, muitas vezes, frutos da influência dos anos de Globo Reporter que Coutinho teve, a meu ver.
Essa não foi considerada nem pelo próprio autor uma obra prima, mas acredito que seja um retrato honesto da realidade de uma tradição muito forte do Nordeste brasileiro. Sendo assim, pode ser levada como uma reportagem um pouco mais caprichada ou como um documentário secundário da carreira de Coutinho, ficando a escolha do espectador como quer interpretar essa produção dos anos de transição do grande documentarista brasileiro.
Nota do autor:
Gabriel Santana

| Título Original | Os Romeiros do Padre Cícero |
| Lançamento | 1994 |
| País de Origem | Brasil |
| Distribuidora | Youtube (não oficial) |
| Duração | 35m |
| Direção | Eduardo Coutinho |
Onde Assistir?
(não oficial)





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