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Retratos Fantasmas [Crítica]

Quarto longa-metragem de Kléber Mendonça Filho, Retratos Fantasmas é uma reconstituição de suas memórias e vivências na cidade de Recife desde sua infância passando por referências a seus filmes. O documentário é cativante na sua narrativa sobre a cidade e sobre os contextos de vida de seu autor que foram sendo alterados com o passar do tempo.

A narrativa vai sendo conduzida pela narração de Kléber que vai nos contando sobre sua vivência na cidade de Recife em 3 atos. O primeiro diz respeito ao apartamento de sua mãe que foi o lugar onde ele morou e gravou seus primeiros filmes desde muito jovem. Aí já somos introduzidos a sua paixão por contar histórias e até somos apresentados a cenários particularmente familiares a suas obras anteriores. No segundo, Kléber se concentra nos cinemas do centro histórico de Recife que hoje em dia ou foram fechados ou estão bem diferentes do seu auge. E por fim, temos uma reconstituição mais específica sobre um dos cinemas abordados e sua trajetória durante os acontecimentos mais importantes do século passado.

Achei bastante agradável o ritmo que o diretor deu a trama: tem seus momentos de respiro, de contemplação das paisagens e fotografias antigas, mas sempre com uma boa base de contexto por trás. Claro que a primeira parte do longa é mais intimista e pessoal, se tornando também um ótimo tributo a sua mãe e ao cenário de suas primeiras criações, algo que é realmente marcante na vida dele. Além de ser uma pequena e agradável demonstração de metalinguagem de seu criador. Com o desenrolar da história para além dos limites de seu apartamento temos uma parte que me interessou muito, a reconstituição da história e trajetória das casas de cinema do centro de Recife. Aqui conhecemos melhor o funcionamento desses lugares no passado, vemos filmes e referências ao cinema clássico e a história dos espaços citados e podemos até aprender com tudo isso. Por fim, há uma reconstituição histórica muito bacana que traz críticas bem claras e corretas ao grande monopólio das empresas estrangeiras num contexto de expansão do cinema ao redor do mundo no século XX.

A fotografia traz uma espécie de filtro que distorce a imagem para transformar em algo semelhante aos “fantasmas” das TVs de tubo antigas. Isso foi uma interessante escolha para se adequar ao título e ao tema de memórias e ambientes mortos do passado que sobrevivem apenas pelas memórias recordadas aqui pelas filmagens de Kléber e os arquivos que ainda resistem ao tempo. O filme também traz uma trilha sonora que une bastante som ambiente com músicas e algumas pausas silenciosas. Todo o longa demonstra ter recebido um cuidado especial para que nada ficasse descontextualizado ou perdido na sequência narrativa.

Acredito que as partes que mais me interessaram foram as relações de funcionamento dos cinemas no passado e as relações da sétima arte com os contextos históricos conturbados, principalmente durante o período da segunda guerra mundial. A recontagem dos momentos de amplo domínio estrangeiro no passado demonstram que nosso cinema nacional sempre foi estrangeiro aqui no Brasil até hoje. Bom também perceber que obras como essa tornam isso claro e trazem a importante mensagem de que se deve apoiar nossa arte. Pena que esse filme é justamente um exemplo de que não é o que está acontecendo, pois o filme nem sequer teve um lançamento nas grandes salas de cinema da minha cidade.

Falando em minha cidade, fiquei impressionado com a semelhança das paisagens de Recife com as daqui de Aracaju. É uma familiaridade incrível. Obviamente que a distância não é grande, mas se eu não duvidaria jamais se me dissessem que o filme foi gravado aqui. Contra isso apenas os monumentos históricos e paisagens características da Recife antiga. Na sequência final, inclusive, quando há um enfoque nas diversas farmácias de uma avenida a noite, é incrivelmente semelhante a uma avenida perto da minha casa. Toda essa relação de proximidade e identificação me fez ter um apego maior. Ainda em relação a essa sequência final, o tema central e que dá nome ao longa reaparece de forma poética com Kléber fazendo uma participação em cena passeando pelas localidades abordadas anteriormente no filme.

Esse foi um filme interessante e fruto de um trabalho de reconstituição histórica bem elaborado. Fiquei bastante tocado com certas passagens e com certos personagens que participam direta ou indiretamente da trama. Tudo isso contribuiu para uma obra sobre cinema, sobre seu diretor, sobre sua cidade e sobre a arte brasileira que demonstra mais uma vez a perspicácia de Kléber Mendonça Filho, elevando o cinema brasileiro para um patamar de respeito.

Nota do autor:

Avaliação: 3.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalRetratos Fantasmas
Lançamento2023
País de OrigemBrasil
DistribuidoraVitrine Filmes
Duração1h33m
DireçãoKleber Mendonça Filho

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