O Gabinete do Dr. Caligari [Crítica]

Clássico do expressionismo alemão e um dos precursores do cinema mundial, esse filme é um retrato muito importante não somente da arte clássica do cinema, mas também da realidade do mundo daquela época. Mesmo com alguns elementos estranhos aos meus olhos de hoje, do século XXI, há muita beleza e boas ideias nesse longa que consegue, mesmo sem fala, transmitir mensagens interessantes.

A história acompanha Caligari, um estranho homem que perambula por pequenas cidades com sua estranha atração: um sonâmbulo que é capaz de fazer previsões macabras. O que poucos sabem são os segredos e perigos que acompanham esse homem, digamos, incomum. A história nos é contada por um narrador que não exporei aqui pois faz parte do desenrolar final da trama. De qualquer maneira, o filme consegue expor sua narrativa central muito bem até certo ponto. Há, porém, um ponto de virada que exige a interpretação de seu espectador. O que podemos enxergar claramente é o exagero nas partes técnicas do longa. Cenários, maquiagem e expressões exageradas são uma forma que encontraram na época de fugir da realidade triste e pesada do período pós-primeira guerra mundial. As escolhas narrativas e os efeitos técnicos utilizados naquele momento de precariedade das formas de manipulação de imagens são louváveis e bem funcionais para a trama. Mesmo que hoje não assustem ou causem o suspense que a história pedia, na época acho que era o mais adequado. Além de se passar e ser produzido na Alemanha, a importância desse filme para o entendimento da história do país nesse momento de transição radical traz reflexões curiosas a respeito da sociedade da época. Há alusões ao autoritarismo, à morte e como se lidar com ela, a displicência da sociedade em relação as mudanças e a manipulação da massa popular. Tudo isso em meio a uma história que vai se tornando cada vez mais complexa. A ideia original dos roteiristas era deixar as críticas citadas acima ainda mais claras, porém, houve uma readequação do estúdio e do diretor da obra para promover uma melhor recepção comercial. Isso acabou até alterando os sentidos intrínsecos da história. Aí cabe a interpretação póstuma do espectador a respeito da trama, que ganhou significados e simbolismos ainda mais ambíguos. De qualquer maneira, o espetáculo visual é fixante, ainda mais para a época, e a história, por mais que lenta em alguns momentos devido à falta de falas, consegue intrigar o suficiente par nos manter interessados e posteriormente nos fazer pensar a respeito dos temas abordados no filme.

Com filmes como esse podemos enxergar a importante de compreender os primeiros movimentos cinematográficos para entender essa arte como um todo, pois a história aqui contada não se utiliza de alguns dos conceitos mais básicos presentes em todo o cinema mundial popular atualmente. É vendo como é possível contar uma história de uma maneira diferente do habitual que conseguimos observar como a profundidade do cinema, para além da própria história contada no filme, pode ser interessante e construtiva.

Gabriel Santana

Título Original	Das Cabinet des Dr. Caligari
Lançamento	1920
País de Origem	Alemanha
Distribuidora	Decla-Bioscop AG
Duração	1h16m
Direção	Robert Wiene

Onde Assistir?

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