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Argentina, 1985 [Crítica]

Diretamente da nossa vizinha Argentina, esse filme traz a tona uma parte da história do país que jamais deve ser esquecida, a crueldade da ditadura militar. Devido a sua condução excepcional, o filme foi muito bem recebido e foi indicado a melhor filme internacional no Oscar de 2023. Prêmio esse que, inclusive, eu daria com toda certeza para ele, mas, no caso, foi entregue para Nada de Novo no Front, que tem seus méritos também. De qualquer forma, esse filme une história, drama, biografia num tipo de filme que eu gosto bastante, filmes de julgamento e tribunal.

O filme conta em suas 2 horas de duração a história do longo julgamento de comandantes militares argentinos responsáveis pela repressão, sequestro, tortura e morte de supostos “inimigos da pátria” – homens, mulheres e até crianças que de alguma forma incomodavam o poder do regime. Acompanhamos então a jornada de um promotor de justiça que é incumbido da difícil tarefa de montar uma equipe para formalizar a acusação contra os tais militares. Num contexto de uma Argentina recém-saída de uma ditadura, a repressão contra o promotor Julio Strassera e sua equipe são frequentes e as ameaças começam a surgir de todos os lugares. Todo esse clima é muito bem conduzido pela direção do longa. Direção essa que, inclusive, me trouxe uma sensação muito boa pela excelente maneira com que conciliou um clima de tensão constante e um tema tão pesado como a tortura e morte de milhares de pessoas por um governo autoritário com uma narrativa de cumplicidade e leveza entre os recém-conhecidos da equipe que se formou para investigar os crimes. A alternância me pareceu perfeita durante toda a duração com uma condução habilidosa em trocar de uma faceta para a outra sem perder o tom de seriedade nas partes séries e nem deixar o filme o tempo todo sufocante. Acredito que foi a decisão mais certeira no quesito de direção. No mais, todos os personagens principais e secundários tinham o que acrescentar e estavam bem colocados em cada uma das cenas. Com uma história tão pesada em mãos, é incrível perceber como os realizadores conseguiram expor de forma contundente a mensagem pretendida sem nunca perder a singeleza das pequenas relações humanas e a todo o momento induzindo o expectador a pensar naquela realidade absurda vivida pelos argentinos durante a repressão. É esse pensamento crítico levantado que precisa ser praticado pra que nunca haja o esquecimento do passado e das partes mais covardes e perversas do ser humano. O trabalho em equipe e a vivencia dos envolvidos de perto naquele julgamento foram pontos realmente especiais que tornaram a experiência com o filme ainda mais satisfatória. Além disso, as narrações das vítimas nos depoimentos ao tribunal servem de lembrete também para o que aconteceu e nunca saberemos. As milhares de pessoas que misteriosamente desapareceram e foram torturadas por serem opositoras ou discordarem das práticas do regime militar são memórias compartilhadas com o Brasil, que também viveu um período assim. Porém, infelizmente, aqui não podemos fazer um filme parecido, pois ainda hoje há quem duvide dos fatos vergonhosos do nosso passado recente.

Acho mais do que justo todas as premiações a que esse filme recebeu, principalmente relacionadas a direção que foi o ponto mais tocante pra mim. A capacidade de intercalar os tons e climas durante a trama foi exemplar, um domínio incrível dessa arte. Tudo isso com o intuito de contar uma história baseada na realidade com uma função social altamente necessária.

Nota do autor:

Avaliação: 4.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalArgentina, 1985
Lançamento2022
País de OrigemArgentina/Reino Unido/EUA
DistribuidoraAmazon Studios
Duração2h20m
DireçãoSantiago Mitre

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