Mais um dos indicados a Melhor Filme no Oscar. Mais um que mexeu bastante comigo. Escrito e dirigido por Sara Polley, baseado no livro homônimo de Miriam Toews, o filme de 2022 traz uma crítica realmente válida a nossa sociedade baseada numa narrativa assustadora, mas, infelizmente, real. Só pra atualizar, Entre Mulheres venceu a categoria de melhor roteiro adaptado no Oscar 2023.
O filme me deixou desnorteado desde o começo tentando entender em que realidade aquilo estava ocorrendo. Isso, principalmente, por causa do filtro utilizado. A fotografia me fez pensar que aquilo se passava em algum momento da idade média. Mas, após alguns detalhes e aspetos do lugar revelados, eu continuei desnorteado, mas dessa vez de perceber que se passava numa época muito mais próxima a nossa do que eu imaginava. O longa mostra a história de um grupo de mulheres que vivem numa espécie de colônia religiosa que não ficou tão claro pra mim do que se tratava, mas acho que essa era a ideia. Mas, pelo que eu entendi, a colônia é uma espécie de grupo religioso onde os “anciãos” dão as ordens em nome de Deus – pesquisando um pouco, eu descobri que se trata de uma comunidade menonita. Nessa realidade, o grupo de mulheres está em uma discussão a respeito dos recém-descobertos casos de abuso sexual cometidos contra todas as meninas do lugar. A parte assustadora começa a partir daí, quando vemos que quem sofre ameaças de retaliação são as mulheres e então são obrigadas a, pela primeira vez, pensar por si próprias. Isso faz surgir um grupo de líderes que precisam discutir e decidir o futuro das demais. As opções são 3: ficar e serem forçadas a perdoar os agressores, fazer uma revolução para impor novas normas utilizando violência, se necessário, ou partir para criar um novo grupo em outro lugar. Com a discussão é que vamos conhecendo a personalidade de cada uma das envolvidas que, aliás, são interpretadas de maneira incrível. Algumas mais explosivas e outras mais pacifistas. No decorrer das reuniões conhecemos um único homem que foi permitido participar da reunião para escrever a ata, pois as mulheres da vila não tinham nenhum acesso à educação básica. August é um personagem que pouco acrescenta à discussão das mulheres com palavras, mas sua presença impõe um novo questionamento. Quem deveria ser deixado pra trás? Todos os homens e meninos são culpados ou é a própria sociedade que impôs os seus comportamentos hediondos? De qualquer maneira, o roteiro é excepcional em nos trazer um sentimento de revolta só de imaginar o que aquelas mulheres passaram e, pra mim, nunca perde o ritmo, sendo capaz de nos manter com os olhos e ouvidos fixados na tela e nos diálogos que escondem camadas ainda mais profundas da vivencia daquelas pessoas. O universo em que elas estão “apenas existindo” e suportando tudo caladas, começa a, finalmente, ser questionado. Tudo isso envolvido pela fé que ainda consegue mantê-las unidas mesmo sabendo que é por causa do uso torpe dessa mesma fé, que os homens subjugaram e submeteram as mulheres e até as meninas do lugar a uma crueldade repugnante. Só de pensar que isso, de alguma forma, aconteceu na vida real já serve para um indiscutível questionamento acerca da nossa própria realidade atual.
A obra soa importante para, através de um exemplo extremo, mostrar como a mulher foi, por anos, tratada como objetos na sociedade e como isso ainda ressoa nos dias de hoje com a luta por igualdade da parte delas sendo interpretada como motivo para o ódio e misoginia. A ótima realização dessa obra, ainda mais dirigida e roteirizada por uma mulher – que ainda foi merecidamente premiada no Oscar – deve servir como um incentivo para que as meninas e as mulheres não se amedrontem nesse mundo que ainda parece ser muito covarde para aceitar as mulheres como parte primordial.
Nota do autor:
Gabriel Santana

| Título Original | Women Talking |
| Lançamento | 2022 |
| País de Origem | EUA |
| Distribuidora | Plan B Entertainment |
| Duração | 1h44m |
| Direção | Sarah Polley |
Onde Assistir?
(aluguel)





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