Filme vencedor do prêmio de melhor filme no Festival de Cannes de 2022 e indicado a melhor filme no Oscar de 2023, Triângulo da Tristeza é uma sátira social muito bem desenvolvida e realizada, com camadas de mensagens que nos convidam a repensar a sociedade em que vivemos e nos acostumamos a enxergar como normal. Com certeza foi uma experiência diferente que me fez enxergar algumas coisas novas e posso dizer até que foi até bem divertida.
Desde o início e a todo o momento o filme trata de questões propensas a discussões na atualidade. Acho que o filme alfineta todas essas questões, por mínima que seja a alusão a algumas delas. A relação e o papel da mulher na sociedade, a posição feminina numa sociedade machista e patriarcal em que vivemos e a contraposição dos padrões estabelecidos dão inicio ao filme com uma discussão, aparentemente, insignificante que serve como aperitivo para o que vai acontecer a seguir na trama. Acompanhamos um casal de jovens modelos que tem um relacionamento e uma vida pautados pelas mídias sociais. A divisão de capítulos do filme nos leva para ocasiões distintas sempre mantendo o mesmo ar cômico e sarcástico, chegando ao seu ápice no final do segundo ato, onde acontece uma reviravolta e uma mudança de alguns padrões previamente estabelecidos. Tudo isso acontece para tornar ainda mais palpável as alusões que o roteiro quer nos mostrar e o ambiente criado para isso parece ser perfeito para a trama. Antes disso tudo, no segundo capítulo, acompanhamos o casal do início em um iate de luxo onde conhecemos alguns dos demais tripulantes e passageiros que vão acrescentando camadas às críticas sociais sempre presentes no longa. A partir daí os diálogos já estão carregados com referencias políticas e diferentes discussões da sociedade contemporânea. Uma cena específica me causou um bom estranhamento e serviu para deixar claro, de forma hiperbólica – mas que não deixa de ser real – o quanto nossas discussões pessoais são pautadas pela ganância e o dinheiro, no dia-a-dia. Se isso acontece nos menores casos, aqui isso é levado ao extremo. No entanto, o que mais me chamou atenção nessa obra são os detalhes que têm muito a acrescentar e têm uma mensagem subliminar importante, tocando em feridas sociais sem nem mesmo ter que citá-las explicitamente. São detalhes no cenário, nas linguagens e formas de falar dos personagens, na mentalidade de algumas pessoas e como elas lidam com certas situações que expõem a verdade dentro de cada uma. No fim, temos uma reviravolta muito bem concatenada para expor uma transformação social interessante. E em todos os momentos o filme parece estar nos convidando à discussão, imaginando como agiríamos em tais ocasiões. Essa foi a minha experiência, pelo menos. Toda hora eu começava a raciocinar me colocando naquelas situações e isso serviu para entender como o ser humano é complexo e facilmente influenciável e como nossa sociedade está longe de ser ideal. Mesmo assim, para muitos, é mais fácil fantasiar uma lógica errônea a tentar entender os problemas que nos rodeiam. Por fim, acho que o que ficou me incomodando nos minutos após acabar de assistir é como estamos contaminados por um sentimento de conformidade e aceitação que nos mantém inertes em relação às injustiças e desigualdades do mundo ao nosso redor.
Essa foi uma experiência estruturante e que serviu como um bom convite a discussão de diversos aspectos do nosso mundo que precisam ser mais abordados e discutidos abertamente. De todo modo, o filme ainda conseguiu ser bastante engraçado e me tirou vários risos inesperados. Uma boa viagem alucinante, com uma mensagem legal que tem sido merecidamente premiada.
Nota do autor:
Gabriel Santana

| Título Original | Triangle of Sadness |
| Lançamento | 2022 |
| País de Origem | EUA/Suécia/Reino Unido/Alemanha/ França/Turquia/Dinamarca/ Grécia/Suíça/México |
| Distribuidora | Neon |
| Duração | 2h27m |
| Direção | Ruben Östlund |
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