Esse filme me fez ter um sentimento inexplicável. Ao final da experiência eu me senti nocauteado. Além de ter feitos técnicos exemplares, a atuação de Cate Blanchet é algo absurdo. Essa obra conseguiu me transmitir sensações muito verdadeiras e se mostrou um longo estudo de personalidade realmente competente.
A trama acompanha o declínio da vida da “maestro” Lydia Tár, desde o auge de sua invejável carreira até sua mais profunda decadência. Sua personalidade forte, possessiva e explosiva a levam por uma trajetória de declínio até o fundo do poço. A trama é extremamente densa e tem diversos pontos de encontro que nos dão as respostas de forma perspicaz. No decorrer do filme a direção é espetacular em nos transmitir através de enquadramentos precisos e planos longos uma estrondosa atuação em todos os momentos. O que dizer de Cate Blanchet? Eu geralmente não sou muito ligado à atuação e me foco mais em outros pontos de uma obra, mas aqui é impossível não ser afetado pela maneira como somos apresentados e conduzidos pelos interlúdios da vida de Tár. Como falei, essa obra me transmitiu sentimentos muito fortes e me deixou alguns minutos sem saber o que pensar. Demorou certo tempo para meu cérebro conseguir discernir o que eu acabara de ver. A biografia de declínio de uma pessoa é uma queda vertiginosa para o espectador. Todos os pontos frágeis da vida da protagonista que vão, ao longo da narrativa, se rachando ainda mais com o alto tom de seus concertos mentais, e chegam a um clímax onde tudo se quebra numa enxurrada de transtornos. A jornada contra intuitiva de queda nos derruba junto com a personagem título e nos mostra os grandes fardos de conviver com uma pessoa tão controversa e explosiva. Sua personalidade manipuladora e reprovável contrastam com seu currículo e trajetória artística exemplares trazendo a tona um questionamento em relação à dissociação entre obra e artista, como o próprio filme aborda nos minutos inicias. Seu legado deturpado é exposto de maneira inteligente aliando a internet, e seu poder de cancelar as pessoas, a acontecimentos realmente cruéis que são levados como meras casualidades pela protagonista. Com o tempo tudo isso explode e sua vida é carregada para a sarjeta. O barulho surge então como uma forma de expor a desarmonia da vida da personagem, tanto em sua rotina quanto na sua mente. Essa jornada é realmente algo surreal e tudo me passou um ar realístico incômodo do início ao fim. E, sim! Eu também fui em busca de respostas para quem seria aquela personagem real. E, não! Ela não existe na realidade, mas a sua presença nesse longa quase a torna real.
Essa obra é uma viagem assustadora pela vida de uma “pessoa real” que não existe. Tudo o que foi abordado funcionou para mexer comigo e me deixar no estado que já mencionei. Os feitos técnicos e artísticos dessa obra merecem seu reconhecimento à parte. É difícil saber se eu consegui abordar com essas poucas palavras o que realmente esse longa me passou, mas enfim, que filme!
Nota do autor:
Gabriel Santana

| Título Original | TÁR |
| Lançamento | 2022 |
| País de Origem | EUA |
| Distribuidora | Focus Features |
| Duração | 2h38m |
| Direção | Todd Field |
Onde Assistir?






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