Observador [Crítica]

Você já sentiu a sensação de estar sendo observado? Esse filme eleva essa sensação ao extremo. A imersão que tive me ajudou a me sentir ainda mais tenso, pois o roteiro consegue nos deixar desnorteado propositalmente. Assim, esse suspense/terror psicológico funciona muito bem.

Nessa história acompanhamos um casal americano que se muda para a Romênia, a terra natal dele. Lá o marido encontrou uma boa oportunidade de emprego, porém a mulher sente muita dificuldade para se adaptar num lugar tão diferente. Nós então começamos a acompanhar a perspectiva da mulher que se esforça para aprender o idioma e se familiarizar com a nova casa. O problema é que a grande janela de vidro que fica na sala expõe um estranho vizinho que está sempre olhando em direção ao apartamento dela. A partir daí, o incômodo toma conta da protagonista e de nós que estamos acompanhando, pois não sabemos o que é aquilo e a atmosfera de tensão toma conta. A direção é hábil em prolongar essa tensão desde os primeiros minutos até o final. A tentativa de se adaptar a nova realidade oferece ainda uma sensação de solidão, pois a mulher não sabe falar romeno e por isso tem dificuldades para se comunicar com as pessoas do lugar. O seu desnorteamento também me atingiu e causou uma aflição que perdura por toda a duração do filme. O roteiro, ao longo da história, vai colocando alguns elementos que servem para aumentar ainda a curiosidade, a tensão e o medo que sentimos pela segurança da moça. Como ela se sente observada a todo o momento, gradativamente aquele sentimento vai mexendo com seu emocional. Tudo isso gera uma dúvida que insiste em permanecer na nossa cabeça. A sensação de estar sendo perseguida e observada é real ou ela está ficando paranoica por causa do estresse e da mudança brusca de realidade? O filme também utiliza essa indagação na própria trama para deixar-nos ainda mais em dúvida. A hesitação sobre a existência do stalker também serve para fazer a trama seguir uma direção inesperada. Por mais que a Julia – a protagonista – tente se enturmar, os acontecimentos que parecem persegui-la por todos os lados vão deixando ela em um estado de nervos a flor da pele. Assim, ela acaba tomando o papel de stalker para tentar descobrir sozinha o que a ronda. O clima de tensão permanece a cada instante e a cada barulho estranho que acontece no apartamento da mulher. Até mesmo o seu marido, que é uma espécie de porto seguro para Julia, começa a apresentar certa incerteza em relação a seus problemas, deixando-a ainda mais pressionada. Tudo isso me deixou com uma sensação de claustrofobia e aumentou ainda mais o suspense. A gradação de acontecimentos ajuda a alcançarmos o ápice da tensão no clímax e a direção se mostra hábil novamente para apresentar uma finalização satisfatória que se adéqua a atmosfera gerada no decorrer da trama. Acredito que a imersão nesse filme foi fundamental para que o sentimento da protagonista fosse transmitido com eficácia e o terror psicológico funcionasse para nos deixar sem ar o tempo todo.

Pra finalizar, esse filme é eficiente em contar a sua história e está ciente da sua capacidade de mexer com as nossas emoções. Dessa forma, ele se utiliza disso para tornar a experiência muito mais tocante e nos deixar na ponta da cadeira durante toda a duração. Essa sensação de incômodo, propositalmente causada pelo filme, favorece a trama e a imersão nessa obra.

Nota do autor:

Gabriel Santana

Título Original	Watcher
Lançamento	2022
País de Origem	Emirados Árabes/EUA/Romênia
Distribuidora	Imagenation Abu Dhabi
Duração	1h31m
Direção	Chloe Okuno